Never Again

Ruptura diante da violência doméstica em “Never Again”

O refrão carrega um duplo sentido cruel: “She’s just a woman” (ela é só uma mulher) ecoa o desprezo do agressor, enquanto “Never again” (nunca mais) soa como juramento de ruptura. A narrativa parte do olhar de uma criança que testemunha o abuso. Chad Kroeger afirmou que a música não é autobiográfica, mas os detalhes são diretos e cortantes. O ciclo aparece sem rodeios: ele chega bêbado, a sala “vira um ringue”, as mãos cerradas anunciam o ataque, o medo paralisa. Há vergonha e coação quando a mãe é instruída a dizer no hospital que “escorregou e caiu”, enquanto a verdade fica “na sala de espera”, estampada nas mãos do agressor que posa de “amável”. O tema central é o poder sustentado pela violência; o medo convive com a indignação do narrador, que enxerga o risco real de morte.

A virada ocorre quando o narrador deixa de só observar e confronta: “Father’s a name you haven’t earned yet” (pai é um nome que você ainda não mereceu) desmonta a autoridade do homem e expõe sua infantilidade violenta. As repetições “Seen it before but not like this/Been there before but not like this” (já vi isso antes, mas não assim/já passei por isso antes, mas não assim) marcam a escalada até o ponto de ruptura, quando a mãe pega a arma e dispara — reação extrema que interrompe o ciclo. O título “Never Again” resume a recusa à impunidade e ao silêncio. As imagens fortes — a sala-ringue, a mentira no hospital, a arma — explicam por que o clipe original foi descartado por violência e substituído por registros ao vivo, e por que a canção, mesmo não autobiográfica, soou real a ponto de alcançar o topo da Mainstream Rock nos EUA.