Yikes

Poder e provocação feroz em “Yikes”, de Nicki Minaj

A provocação central de “Yikes” é transformar polêmica em combustível. O verso “All you bitches Rosa Parks… get your ass up” (todas vocês, vadias, Rosa Parks… levantem a bunda) põe as rivais “no seu lugar” e assume o risco da afronta pública. Fora da faixa, a reação de Nicki Minaj às críticas — por lançar a música perto do aniversário de Rosa Parks — reforça esse gesto: ela disse que não se importava, espelhando o tom de abertura “Don't ever fuckin' play with me” (nunca ouse brincar comigo). O recado é poder, status e intimidação. Ela se proclama “the fucking queen” (a porra da rainha), cria distância com “This a mack truck/Back up; click, click, clack, duck” (isso é um caminhão Mack/afasta; clique, clique, claque, abaixa) e diminui a concorrência com ironia: cada yikes reduz o barulho alheio a “algo leve”, enquanto expõe a lógica da validação vazia em “you a clown, you do it for likes” (você é um palhaço, faz isso por curtidas).

O vocabulário mistura ostentação e ameaça, com trocadilhos. “Woke up, the price of coke up” (acordei, o preço da coca subiu) fala de mercado e valor próprio; “work hard, this a different white” (trabalho duro; isto é um “branco” diferente) joga com cocaína premium e o brilho de diamantes/alta moda, sugeridos por “diamond chain” e pela Fendi. “I keep two nines” (eu carrego duas 9mm) e “I keep two dimes” (eu fico com duas 10/10) espelham poder e desejo. “Pull your cards, you decline” (puxo seu cartão; você foi recusado) ridiculariza os “durões”. “I give two Fs like the letters that are on my shoe” (dou dois Fs como as letras que estão no meu tênis) liga desdém ao logo duplo F. “Bag talk/ain’t no back talk” (fala de dinheiro/não tem réplica) encerra a posição dominante, sustentada pela base trap de Pooh Beatz, Tane Runo e Deafh Beats e por um desempenho forte: top 25 na Hot 100 e a 108ª entrada de Nicki no ranking, então recorde feminino.