Língua de Lagartixa

“Língua de Lagartixa”: lealdade, traição e lei do silêncio

Em “Língua de Lagartixa”, o NSC - Neurônios SubConsciente transforma o dedo-duro em bicho de língua comprida: o falador que usa o celular para delatar — “o celular atenta... faz ligação entrega o irmão”. A faixa não mira só a polícia; aponta o X9 como praga interna — “não sei quem é pior os coxinha ou os X9” — e ergue a lei do silêncio como regra de sobrevivência. Fiel ao traço do grupo, que mistura batidas de hip hop com balanços brasileiros e retrata a vida urbana, a narrativa se ancora em Alagoas (Maceió, São Miguel, Presídio Baldomero). O vocabulário regional e carcerário explica o código da rua: “X9/cabueta/chumbeta” (informante), “rodar” (ser preso), “lei do silêncio” (não falar com polícia). A menção à “lei dos trinta” lembra o antigo limite de 30 anos de pena, sugerindo o vai e volta do sistema prisional.

A voz fala pelos parceiros de um “patrão” que “rodou” por causa de um “cabana” e convoca a rapa para “cobrar a fita”. O que está em jogo é a liberdade do aliado, a reputação do grupo — “leal à facção” — e a sobrevivência num território sob cerco. As imagens são diretas e brutais: “dois caixão: um pra ele e um pra língua”; o “curiador” com cara de “coruja/sapo”, o espião do “diz que me disse” que liga pro 190. Predominam raiva, paranoia, senso de justiça própria e urgência. Há crítica social clara: operações, prisões e pobreza alimentam o “bang bang”, enquanto a descrença no Estado faz a rua manter o silêncio. A violência é relatada como dinâmica do ambiente, não incentivada.