Farpa Cortante

Realidade social e resistência em "Farpa Cortante"

Em "Farpa Cortante", O Rappa utiliza a imagem da "lata com farpa cortante" para representar a vida de quem vive à margem da sociedade, exposto a perigos constantes e feridas, tanto físicas quanto emocionais. Essa metáfora mostra como a sobrevivência em ambientes precários é marcada por obstáculos que machucam e deixam cicatrizes, reforçando a sensação de vulnerabilidade e risco permanente. O título faz referência não só ao objeto literal, comum em áreas degradadas, mas também às dores diárias e às marcas invisíveis da exclusão social.

A letra descreve de forma direta o cotidiano difícil de quem enfrenta a pobreza. Trechos como “o pé incomoda com o furo” e “no escuro, o teto é a laje” evidenciam as carências materiais, enquanto “no charco molhado de papelão” mostra a precariedade das moradias improvisadas. A repetição de “na brasa da fogueira” reforça a luta diária pela sobrevivência, onde o calor é ao mesmo tempo necessidade e perigo. O verso “eu não tenho meu pai, eu sou sozinho / a vida emprestada no crime” revela a ausência de apoio familiar e a marginalização, sugerindo que, sem oportunidades, muitos acabam recorrendo ao crime. Já “sem choro não há tempo” destaca a necessidade de endurecimento emocional diante das adversidades, pois o sofrimento não pode ser um obstáculo à sobrevivência.

O Rappa, ao dar voz a essas experiências, denuncia a desigualdade social e a falta de perspectivas. "Farpa Cortante" se torna um retrato direto e sensível das dores de quem vive “no lado de cá da vitória”, expressão que ironiza a distância entre a sobrevivência e qualquer ideia de conquista ou sucesso.