Ninguém Regula a América

Crítica à hegemonia dos EUA em "Ninguém Regula a América"

"Ninguém Regula a América", do O Rappa, utiliza ironia já no título para questionar a suposta autonomia latino-americana. Em vez de exaltar independência, a letra denuncia a dominação e vigilância dos Estados Unidos sobre o continente. O uso da frase em inglês “nobody fucks with America” (ninguém mexe com a América) reforça a ironia e destaca a arrogância percebida na postura norte-americana, além de evidenciar a influência cultural e política dos EUA na região.

A música faz referências diretas à vigilância internacional, como em “Satélites de cima vigiando todos os atos de rebeldia / MST observado pela CIA”, mostrando o monitoramento de movimentos sociais latino-americanos por agências dos EUA. O verso “um avião cara-de-pau preso na China” remete a incidentes de espionagem e tensões diplomáticas. Já “painel de controle / cidades sem culpa / na sensação do protocolo de Kioto / carbonizado em plena chuva / de armas exportadas” critica a hipocrisia dos EUA ao cobrar compromissos ambientais enquanto exportam armas e perpetuam conflitos. A menção ao “dólar dos outros / coagulado e globalizado / nas veias abertas / de outra dívida externa” faz referência à dependência econômica e à exploração financeira, dialogando com o livro "As Veias Abertas da América Latina" de Eduardo Galeano.

A letra também denuncia a influência dos EUA em políticas internas de países como Colômbia e Brasil, citando “Forçando a porta da Colômbia / com uma hipocrisia que vicia / o intelecto de Brasília”. A referência a “O W. Bush de plantão” simboliza a continuidade das políticas intervencionistas. A parceria com o Sepultura intensifica o tom de protesto, e o lançamento pouco antes do 11 de setembro de 2001 dá ainda mais urgência à crítica sobre o poderio militar e a arrogância dos EUA. Assim, a música se firma como um manifesto contra a hegemonia estadunidense e um convite à reflexão sobre soberania na América Latina.