Lado B Lado A

Identidade e resistência urbana em “Lado B Lado A” de O Rappa

Em “Lado B Lado A”, O Rappa explora a dualidade e a resistência presentes na cultura afro-brasileira, logo no início ao contrapor “Exu” e “Iemanjá”. Exu, associado à malandragem e à encruzilhada, aparece como símbolo de enfrentamento, enquanto Iemanjá representa proteção e acolhimento. Ao dizer “Se eles são Exu, eu sou Iemanjá”, a banda afirma uma identidade própria e denuncia o preconceito contra religiões de matriz africana, destacando a luta contra a marginalização. O verso “Com o corpo fechado ninguém vai me pegar” reforça a busca por proteção espiritual diante das adversidades das periferias urbanas.

A música também valoriza elementos da cultura popular, como em “Eu sou mais Jorge Ben tocando bem alto no meu walkman, esperando o carnaval do ano que vem”. A referência a Jorge Ben Jor e ao carnaval simboliza resistência, alegria e esperança, mesmo diante da incerteza expressa em “Não sei se o ano vai ser do mal ou se vai ser do bem”. O contraste entre “O que te guarda a lei dos homens, o que me guarda a lei de Deus” evidencia a diferença entre justiça institucional e fé individual. Já “Não abro mão da mitologia negra para dizer que eu não pareço com você” reforça o orgulho das raízes afro-brasileiras e a recusa em se submeter a padrões impostos. A metáfora do “despacho na esquina pro futuro” sugere um gesto de resistência e esperança, enquanto “Espero estar bem longe quando o rodo passar” expressa o desejo de escapar das consequências negativas do sistema. A produção experimental de Bill Laswell e a mistura de gêneros musicais reforçam a mensagem de resistência, mistura e identidade, tornando a canção um retrato marcante da realidade urbana brasileira.