Candidato Caô Caô

Hipocrisia política e resistência em “Candidato Caô Caô”

“Candidato Caô Caô”, de O Rappa, faz uma crítica direta e sarcástica aos políticos oportunistas que, durante as eleições, fingem proximidade com as comunidades carentes para conquistar votos. A expressão “caô caô”, gíria carioca para mentira ou enganação, reforça a denúncia da hipocrisia desses candidatos. A letra descreve situações em que o político sobe o morro “sem gravata”, bebe cachaça, fuma “bagulho” e participa de rituais religiosos locais, tudo para parecer humilde e próximo do povo. Exemplos como “usou lata de goiabada como prato” e “bebeu água da chuva” mostram atitudes encenadas para criar uma imagem de identificação, mas que não passam de demagogia.

O contexto da música ganha ainda mais força por ter sido inspirado em um calote sofrido por Walter Meninão, o que traz um tom pessoal de traição e desilusão. A canção alerta para o ciclo repetitivo das eleições, em que as promessas são renovadas, mas a população continua sendo enganada. O verso “hoje ele pede seu voto, amanhã manda a polícia lhe bater” deixa clara a inversão de papéis: o político que se mostra amigo durante a campanha, depois de eleito, reprime e abandona o povo. A participação de Bezerra da Silva, com a fala “esse político é safadão hein!”, reforça o tom popular e debochado da crítica. No final, a música amplia a denúncia ao abordar a desigualdade social e o sofrimento do trabalhador, cobrando diretamente os políticos: “você me deve, seu canalhocrata!”. Assim, “Candidato Caô Caô” se mantém atual ao expressar a desconfiança e o cansaço do povo diante das promessas vazias e da corrupção.