A Todas As Comunidades do Engenho Novo

Pertencimento em “A Todas As Comunidades do Engenho Novo”

O Rappa apresenta um retrato de pertencimento e um guia do Engenho Novo. Ao dizer “Eu moro na comunidade do Engenho Novo” e saudar “À todas comunidades”, a voz ancora a narrativa no bairro com pontos reais: “Souza Barros 24”, “Marechal Rondon”, “Buraco do Padre”, “Igreja Conceição”, “Parque Santos Dumont”. A enumeração de bailes e comunidades — “Sargento, Magnatas, Garnier, Céu Azul, Matriz, Rato Molhado, Jacaré, São João, Mangueira, Sampaio” — evidencia a rede cultural do entorno. O convite “Tá convidado, sangue bom” e o refrão reforçam união e orgulho, como na homenagem do álbum Lado B Lado A (1999).

A letra enfrenta estereótipos: “Todo mundo diz que o funkeiro é um animal”, e logo mostra rotina, lazer e respeito — tarde de “futebol” e, à noite, “curtir um baile na moral”. “Pela-saco” aponta fofoqueiros e enroladores “em todo lugar”, recusando generalizações. A ponte com o samba surge em “Partideiro que é partideiro” e se afirma na citação a Cartola — “As rosas não falam” — conectando morro e raízes do samba, além do orgulho de “minha escola” na avenida, com referência à Mangueira. Funk, samba e futebol viram pilares de identidade e sociabilidade.

O retrato inclui tensão diária. “Quem fuma… tem que chegar no sapatinho” e “quem está lá em cima… tá de olho no movimento” codificam regras e vigilância; “lá em cima” pode ser olheiros no alto do morro ou autoridades. “Morteiro na mão, estrondo no ar” avisa que “a polícia qualquer hora vai chegar”, imagem da relação com o Estado, sem glamour. Mesmo ao afirmar “O morro amado… comandado por irmãos… amigos”, a canção humaniza lideranças e insiste: “é tudo, tudo coração”. É um olhar direto, carinhoso e realista, fiel ao compromisso do O Rappa com as periferias.