Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro

Racismo estrutural e repressão em “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro”

A música “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro”, de O Rappa, faz uma ligação direta entre a repressão policial atual e a herança da escravidão no Brasil. Ao afirmar “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, a banda mostra como a violência e o controle sobre a população negra continuam presentes, agora sob a forma de abordagens policiais e racismo estrutural. Essa ideia é reforçada pela referência ao poema “O Navio Negreiro”, de Castro Alves, que denuncia os horrores da escravidão e destaca que a luta contra o racismo é antiga, mas ainda necessária.

A letra traz exemplos claros de discriminação cotidiana, como na abordagem policial: “Veio os homens / E nos pararam / Documento por favor”. Mesmo após apresentar os documentos, a suspeita e o constrangimento continuam, mostrando o perfilamento racial: “É mole de ver / Que em qualquer dura / O tempo passa mais lento pro negão”. O verso “Quem segurava com força a chibata / Agora usa farda” deixa evidente que o poder opressor dos antigos senhores de escravos foi transferido para os agentes do Estado, indicando que a violência mudou de forma, mas não de alvo. A música também critica a desigualdade no tratamento de doenças como a AIDS, mostrando como a mídia internacional ignora o sofrimento africano em comparação ao destaque dado a celebridades, reforçando a hierarquia racial global. Com tom direto e crítico, a canção se mantém atual ao exigir reflexão sobre racismo e violência institucional.