Fronteira (D.U.C.A)

Liberdade e risco em “Fronteira (D.U.C.A)” de O Rappa

Em “Fronteira (D.U.C.A)”, o subtítulo não é só um enigma: “D.U.C.A.” significa “De Um Certo Alguém” e aponta para a história real do amigo que “pegou onze anos”, citada na letra. No clipe, ambientado em 1969 sob a ditadura, a “fronteira” sai do contrabando e vai para a censura, ampliando a discussão sobre liberdade. Na letra, a fronteira é literal e simbólica: o limite físico a ser cruzado com “um caminhão, uma tonelada de besteira” (provável contrabando: drogas ou armas) e o limite ético em que a tentação do “pagavam o quanto fosse” pesa mais que a prudência. “Besteira” tem duplo sentido: tanto minimiza o crime quanto expõe a tolice da escolha. O refrão mecânico “leva, leva... blim-blim” funciona como trilha do dinheiro fácil, com “blim-blim” soando caixa registradora. A linha “miséria e oportunidade, sua liberdade” resume o conflito: necessidade versus chance rápida, e o preço é a liberdade — “abriu mão de tudo o que Deus te deu pra aproveitar”.

A narrativa é direta: vem o convite, entra a ingenuidade (“de babaca, eu fui”), o risco cresce (“você não se toca na hora”), ocorre a queda (“entrar em cana”; “pagou de bacana, e veio a se arrasar”) e surge o alerta do tal “certo alguém”, cristalizado em “não existe nada melhor nesse mundo que estar livre”. O Rappa martela esse mantra como antídoto ao “leva, leva”, lembrando que lucro momentâneo vira anos perdidos. No clipe, a tentativa de invadir a rádio para tocar a música espelha outra travessia: furar a censura é cruzar a fronteira da palavra proibida. A faixa percorre euforia, medo, vergonha e arrependimento para reafirmar uma ideia simples e dura: nada compensa perder a liberdade.