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A Volta do Sorro Manso

Pedro Ortaça

LetraSignificado

    Arreganho a oito baixos
    Que nem risada de china
    Faço roncar os bordões
    Enquanto a prima se empina
    Voltando à história do sorro
    Que hoje, no más, se termina

    É que o sorro desta história
    Não pegou ensinamento
    Curado da minha surra
    Lá se esqueceu dos tormentos
    Voltando a roubar o alheio
    Para manter o sustento

    Armei a trempe de novo
    De novo peguei o bicho
    Lhe dei um risco nas fuças
    Com pente de carrapicho
    E um chá de casca-de-vaca
    Pra lhe tirar os caprichos

    Lhe perguntei dos ensinos
    E o sorro olhando para mim
    Me repetiu meus conselhos
    Um a um, tim por tim-tim
    E me pedindo licença
    Sentou-se e falou assim

    Bicho rouba por instinto
    Que é coisa que não se ataca
    Mas há muito sorro manso
    De paletó e gravata
    Que com pele de cordeiro
    Vive de roubo e mamata

    E há um velho ditado
    Que corre nesse rincão
    Cadeia é feita pra pobre
    Que rouba por precisão
    É barão que rouba muito
    Quem rouba pouco é ladrão

    E como é que um pobre sorro
    Que não tem dono nem vez
    Que nunca foi numa escola
    Só conta de um a três
    Pode viver sem salário
    Sem paga no fim do mês?

    O mundo é feito pra todos
    Mas isso não corre certo
    No repartir das boladas
    Leva mais quem tá mais perto
    O grande engole o pequeno
    E a sobremesa é do esperto

    Entre os bichos e entre os homens
    Tem os ricos e tem os pobres
    Mas o pobre que é esperto
    Logo uma ciência descobre
    Que o infeliz é aquele
    Que deixa que a espinha dobre

    Não nasci pra dobradiça
    Nem sirvo para teteia
    Por isso que me rebusco
    Conforme a volta da ideia
    Me viro que nem bolacha
    Numa gengiva de véia

    Procuro tirar dos ricos
    Conforme foi seu ensino
    Pra alimentar minha sorra
    Dar bóia pra os meus sorrinhos
    Roubar pra matar a fome
    Sempre foi o meu destino

    Nascer ladrão foi a sina
    Que Deus deixou para o sorro
    Embora pareça um vício
    Não é mais do que um socorro
    De quem é cria de lobo
    Que se cruzou com cachorro

    E aqui termino essa fala
    Que é a minha filosofia
    Faça de mim o que queira
    Mas não esqueça que um dia
    Deus entorta a mão daquele
    Que ao pobre fraco judia

    Enquanto o sorro ladino
    Me enchia de explicação
    Fui me doendo por dentro
    Me abalando o coração
    E concluí, finalmente
    Que o bicho tinha razão

    Tirei-lhe corda e maneia
    Dei-lhe um tapa no focinho
    E lhe disse: Vai-te embora
    Dar bóia pra os teus sorrinhos
    Que não há coisa mais triste
    Que a fome rondando o ninho

    Deu no pé o sorro véio
    Mas me deixou uma lição
    Nunca julgar quem é pobre
    Sem lhe escutar as razões
    Lembrando que Jesus Cristo
    Morreu entre dois ladrões

    Composição: Aparicio Silva Rillo / Pedro Ortaça. Essa informação está errada? Nos avise.
    Enviada por Nelson. Revisões por 5 pessoas. Viu algum erro? Envie uma revisão.

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