A Volta do Sorro Manso

Crítica social e empatia em "A Volta do Sorro Manso"

Em "A Volta do Sorro Manso", Pedro Ortaça utiliza a figura do "sorro" – um cavalo de pelagem clara, aqui retratado como um animal astuto e marginalizado – para abordar de forma crítica e bem-humorada as desigualdades sociais e os julgamentos morais no cotidiano gaúcho. O sorro funciona como um espelho da sociedade, mostrando que seu instinto de sobrevivência, ao roubar para alimentar seus filhotes, se assemelha à luta dos mais pobres por sustento. Ao mesmo tempo, a música denuncia a hipocrisia dos chamados "sorros mansos de paletó e gravata", expressão que se refere a pessoas de aparência respeitável que também cometem roubos, mas de maneira socialmente aceita e sem punição.

A letra faz uso de expressões regionais e metáforas para construir uma crítica social direta, como no trecho: "cadeia é feita pra pobre que rouba por precisão, é barão que rouba muito, quem rouba pouco é ladrão". Essa passagem evidencia a injustiça no tratamento dado aos pobres em contraste com os ricos, reforçando o tom reflexivo da canção. O diálogo entre o narrador e o sorro, que "me repetiu meus conselhos, um a um, tim por tim-tim", inverte os papéis tradicionais: o animal, geralmente visto como ladrão, apresenta argumentos que humanizam sua condição e questionam a moralidade dos julgadores. No final, o narrador reconhece a razão do sorro e aprende a não julgar sem antes ouvir o outro, reforçando a mensagem de empatia e justiça social, alinhada ao compromisso de Ortaça com a cultura missioneira e a valorização das vozes marginalizadas do campo.