Finado Trançudo

Orgulho e humor gaúcho em “Finado Trançudo” de Pedro Ortaça

“Finado Trançudo”, de Pedro Ortaça, é uma homenagem bem-humorada à identidade gaúcha, marcada por valentia, esperteza e orgulho regional. A letra apresenta um personagem folclórico típico do interior do Rio Grande do Sul, que se gaba de feitos exagerados, como “briguei com lobisomem num pelado de rodeio” e “se uma cruzeira me pica, fico eu e morre a cobra”. Essas hipérboles são comuns na tradição oral gaúcha e reforçam o espírito destemido e autossuficiente do gaúcho, algo valorizado por Ortaça, que tem forte ligação com a cultura missioneira e a vida campeira.

A música também destaca a relação afetiva do gaúcho com a guitarra, comparando o instrumento a uma mulher em miniatura, com “boleado das ancas e o estreito da cintura”. Esse trecho mostra o carinho e a intimidade do músico com seu instrumento, além de reforçar a importância da música na cultura local. Expressões regionais como “me perco pelas bonitas, mas não tremo pelo feio” e “conheço o rengo sentado e o cego quando dormindo” evidenciam a malícia e a esperteza do narrador, que se coloca acima das dificuldades do campo. No final, a mistura de opostos – “sou meio Deus, meio diabo, meio herege, meio santo” – revela a complexidade do homem do sul, que se reconhece tanto nas virtudes quanto nos defeitos, mas sempre com autenticidade. A canção celebra, assim, a bravura, o humor e o orgulho de ser gaúcho.