Poetas no Topo 3.3 - Parte 2

Crítica social e resistência em “Poetas no Topo 3.3 - Parte 2”

"Poetas no Topo 3.3 - Parte 2", da Pineapple, se destaca pela forma direta com que os artistas abordam as contradições e dores das periferias brasileiras, denunciando a exploração da cultura de favela por quem não vive essa realidade. Um ponto central é a crítica à apropriação do rap por pessoas de fora da periferia e à romantização da criminalidade. Isso fica claro quando Black diz: “uma parte dessa cena são playboys lucrando com as dores da favela” e MV Bill reforça: “cartucheira de bandido nunca vai virar herói, playboy”. Esses versos mostram o incômodo dos artistas com o oportunismo e a superficialidade de quem adota a estética periférica sem vivenciar suas dificuldades.

A música funciona como um comentário social coletivo, reunindo relatos marcados por racismo, violência policial e desigualdade. Knust fala abertamente sobre depressão e sobrevivência: “Quarenta dias depois de quarenta pílulas / Não sei se minha ida ainda é bem-vinda do outro lado”, mostrando o impacto da opressão na saúde mental dos jovens da periferia. Souto MC amplia o debate ao citar “genocídio trazido de caravela”, conectando o racismo atual ao passado colonial e criticando a permanência de estruturas racistas e machistas. Chris e Gali abordam a hipocrisia política e a violência seletiva, como em “não vi Hitler, vi Witzel com o fuzil / Matando crianças a sangue frio”, referência direta à brutalidade policial no Rio de Janeiro.

Além das denúncias, a faixa discute a busca por autenticidade e superação, rejeitando a ideia de que o sucesso no rap precisa estar ligado à ostentação ou ao crime. Projota e Cesar MC relatam experiências de discriminação e luta, enquanto Kamau encerra destacando a importância de ser exemplo para que outros também possam alcançar o topo. O resultado é um manifesto sobre resistência, identidade e justiça social, sem perder a esperança e a integridade.