Tommy The Cat

Sedução felina, bar e sátira no noir de “Tommy The Cat”

“Tommy The Cat”, do Primus, transforma paquera de bar em fábula felina sobre fanfarronice masculina. Com Tom Waits dando voz ao personagem na versão de estúdio, o tom vira crônica noir: áspera, teatral, de quem “vende a própria lenda”. Tommy se coloca como “urban predator” (predador urbano) e marca o instinto de caça ao torcer o tempo em “Well, I remember it as were a meal ago” (Bem, lembro como se tivesse sido uma refeição atrás). A entrada da fêmea é desenhada em imagem hiperbólica — “She came slidin’ down the alleyway like butter drippin’ off a hot biscuit” (Ela veio escorregando pelo beco como manteiga pingando de um biscoito quente) — enquanto O’Malley’s Alley funciona como palco de exibição masculina, reforçado pelo trocadilho: “The air was thick with cat calls (no pun intended)” (O ar estava carregado de cantadas/assobios [sem trocadilho]). Quando dispara “She was lookin’ for that stud bull… that He cat — and that was me” (Ela procurava aquele touro reprodutor… aquele gato macho — e esse era eu), encena o macho-alfa clássico, e o refrão “Say, baby, do you wanna lay down with me?” (Diz aí, gata, quer deitar comigo?) expõe a cara de pau do narrador pela repetição insistente.

O clipe cimenta essa mitologia: Les Claypool aparece como barman servindo leite a um velhote fantasiado de gato, e a animação da gata cruzando o beco encena imagens como “She came slidin’…”. Musicalmente, o baixo intrincado e o caldo funk-metal dão corpo ao “passo de caça”: groove rasteiro que acompanha a lábia de Tommy. Ao vivo, Claypool faz as duas vozes, sublinhando o caráter performático e satírico: uma coleção de causos de um malandro que se acha lenda das ruas, mais postura do que romance de verdade.