Mutter

Solidão e rejeição na busca por origem em “Mutter”

A música “Mutter”, do Rammstein, aborda de forma intensa o sentimento de abandono e a busca por identidade de alguém criado artificialmente, sem laços familiares. Nos versos “Keine Sonne die mir scheint / Keine Brust hat Milch geweint / In meiner Kehle steckt ein Schlauch / Habe keinen Nabel auf dem Bauch” (“Nenhum sol brilha para mim / Nenhum seio chorou leite / Na minha garganta há um tubo / Não tenho umbigo na barriga”), a letra deixa claro que o eu lírico nunca teve afeto materno nem um nascimento natural, sugerindo uma criação em laboratório, sem mãe, nome ou origem tradicional. Essa narrativa se conecta à crítica à clonagem humana e às discussões sobre as consequências emocionais e existenciais de uma vida sem vínculos, tema em destaque no início dos anos 2000.

A música faz referência direta à criatura de Frankenstein, especialmente na parte em que o eu lírico promete vingança à “mãe” que nunca existiu: “Der Mutter die mich nie geboren / Habe ich heute nacht geschworen / Ich werde ihr eine Krankheit schenken / Und sie danach im Fluss versenken” (“À mãe que nunca me deu à luz / Jurei esta noite / Vou lhe dar uma doença / E depois afogá-la no rio”). Aqui, a figura materna é tratada como um conceito abstrato, alvo de ressentimento e desejo de punição, refletindo tanto a dor do abandono quanto a revolta contra a própria criação artificial. O clipe reforça essa dualidade ao mostrar Till Lindemann como homem e criatura monstruosa, simbolizando o conflito entre o desejo de pertencimento e a sensação de monstruosidade. O pedido repetido por força à mãe inexistente (“Oh, gib mir Kraft, Mutter”) destaca a contradição de buscar consolo e identidade justamente naquilo que foi negado, tornando “Mutter” uma metáfora poderosa sobre solidão, rejeição e a busca por sentido.