Eu Também Vou Reclamar

Crítica à cultura do protesto em “Eu Também Vou Reclamar”

Em “Eu Também Vou Reclamar”, Raul Seixas faz uma crítica irônica à onda de músicas de protesto que dominava a MPB nos anos 1970. Ele expõe sua insatisfação com a superficialidade e a comercialização desse tipo de discurso, especialmente ao afirmar: “se agora pra fazer sucesso, pra vender disco de protesto, todo mundo tem que reclamar”. Aqui, Raul aponta diretamente para artistas como Belchior, Sílvio Brito e Hermes Aquino, que popularizaram o estilo, e se coloca como alguém que já fazia críticas antes de isso virar moda. O tom sarcástico aparece quando ele diz que vai “entrar também nessa jogada”, sugerindo que o protesto virou apenas mais uma estratégia de mercado, sem autenticidade.

A letra mistura situações cotidianas simples, como a falta de galinha no quintal ou preocupações com prestações, com notícias grandiosas como “Gelo em Marte, diz a viking”. Esse contraste entre o comum e o extraordinário reforça a crítica à falta de profundidade das canções de protesto, que muitas vezes ignoram os problemas reais do dia a dia. Raul também ironiza sua própria trajetória, dizendo que já imitou Elvis Presley e Bob Dylan, e se define como “um latino-americano que não tem cheiro nem sabor”, mostrando um sentimento de desencanto diante da massificação cultural. Ao final, ao dizer que resolveu “dar uma queixadinha”, ele assume o tom de reclamação, mas deixa claro que sua crítica é à própria cultura da reclamação vazia, encerrando com um “fim de papo” que reforça o deboche e o cansaço.