Depoimento De Um Viciado

Contraste e denúncia social em “Depoimento De Um Viciado”

Em “Depoimento De Um Viciado”, o Realidade Cruel faz um uso impactante dos versos de “Nem Um Dia”, de Djavan, para criar um contraste entre o desejo de paz e a dura realidade do vício. Enquanto Djavan fala de saudade e amor, esses mesmos versos, quando inseridos na música, ressaltam a ausência de tranquilidade e o vazio vivido pelo personagem principal. Isso reforça como o vício não tira apenas a saúde, mas também a capacidade de aproveitar momentos simples e felizes.

A letra é direta e confessional, narrando a trajetória de autodestruição causada pelas drogas. O personagem começa com a maconha, passa para a cocaína e chega ao crack, mostrando como a curiosidade e a pressão social podem levar a consequências graves. O texto detalha perdas profundas, como a morte da mãe por desgosto, o fim de relacionamentos e a contaminação pelo HIV, ilustrando o ciclo de degradação física, emocional e social. Trechos como “o demônio rouba a alma, o inferno me sequestra” e “condenado à escuridão do inferno” funcionam como metáforas do sofrimento e também refletem o estigma e a exclusão enfrentados pelos dependentes químicos.

No final, a música assume um tom de alerta e conscientização. O personagem expressa arrependimento e deseja que sua história sirva de exemplo para outros. O Realidade Cruel, fiel à sua proposta de denúncia social, transforma uma experiência individual em um retrato coletivo das periferias urbanas, mostrando que o vício é uma prisão sem glamour e que a saída depende do afastamento das drogas e da busca por apoio espiritual e social.