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Senhor doutor se lhe escrevo
É na mais pura amizade
Sabe, na realidade
Eu sou mais dado ao enlevo
E entre o que devo ou não devo
Muito me perco em sublimidade

Umas isquinhas com elas
Copo de vinho e tal
Pois não me leve a mal
E o colesterol à tabela
É ver passar a vida à janela

Senhor doutor a missiva
Embora pareça intrincada
Quase que é não pedir nada
O que esta carta solicita
Uma versão criativa
Do exame que lhe envio à data

Sabe tão bem a morcela
A pingar no pão
Não sei dizer que não
Hidratos em boa parcela
É poesia a brotar numa cela

Senhor doutor com apreço
Aqui me despeço fremente
O meu casamento depende
Do grande favor que lhe peço
Casado com um ser possesso
Que toma as dores que não sente

Café e um pau de canela
E uma aguardente, vá
Eu sei que não é chá
E a hipertensão que revela
É ser Picasso e não ter uma tela

Café e um pau de canela
E uma aguardente, vá
Eu sei que não é chá
Senhor doutor, à cautela
Pinte-me lá, uma outra aguarela

Para meu mal já me basta ela
Senhor doutor, capriche na tela!

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