The Ribbon

Rituais públicos e luto íntimo em “The Ribbon” de Rodrigo Amarante

"The Ribbon", de Rodrigo Amarante, aborda a tensão entre o luto privado e os rituais públicos que cercam a morte, especialmente no contexto militar. Logo no início, o verso “The ribbon is cut / Now cameras are gone” (“A fita foi cortada / Agora as câmeras se foram”) marca o fim de uma cerimônia oficial e o início do sofrimento silencioso de quem fica. A música faz parte de uma narrativa sobre um soldado e sua mãe, explorando o impacto da morte em combate sob diferentes perspectivas. Ao cantar em inglês e tratar de temas como serviço militar e patriotismo, Amarante se inspira na cultura americana, onde esses assuntos têm grande peso simbólico.

A letra alterna imagens de celebração coletiva, como “the party goes on” (“a festa continua”) e “up goes the flag” (“a bandeira sobe”), com rituais de sacrifício, como “An ox has been killed / In display the head” (“Um boi foi morto / Em exibição, a cabeça”). Isso evidencia como a morte do soldado é transformada em evento público, enquanto a dor individual é ocultada. O diálogo entre pai e filho (“Son, he said / I knew you would / Hell can only do you good” – “Filho, ele disse / Eu sabia que você iria / O inferno só pode te fazer bem”) revela uma resignação amarga diante do sofrimento. A referência à justiça (“A woman made blind / With angels at guard / Servants of lords / With a scale and a sword” – “Uma mulher feita cega / Com anjos de guarda / Servos de senhores / Com uma balança e uma espada”) sugere que a justiça verdadeira é inalcançável, reforçada pelo trecho “Classifieds will never show / What the aces do / To the queen of hearts” (“Os classificados nunca mostrarão / O que os ases fazem / Com a dama de copas”), que aponta para segredos e manipulações nos bastidores do poder. Assim, a canção contrapõe a narrativa heroica oficial à experiência pessoal de perda, questionando o que realmente está por trás dos discursos públicos.