Complainte de La Butte

Montmartre e melancolia em "Complainte de La Butte"

"Complainte de La Butte", interpretada por Rufus Wainwright, retrata a atmosfera boêmia e melancólica de Montmartre, em Paris, como um espaço onde convivem amor, sofrimento e esperança. A música, composta originalmente para o filme "French Cancan", utiliza a lua como símbolo recorrente — "La lune trop blême", "La lune trop rousse", "La lune trop pâle" — para criar um cenário noturno e sonhador. Esses versos não apenas ambientam a narrativa, mas também refletem o estado emocional dos personagens, sugerindo uma beleza delicada e passageira que ilumina, mas também expõe as dificuldades enfrentadas por amantes e artistas do bairro.

A letra mistura imagens de pobreza e ternura, como em "Je sens ta poitrine / Et ta taille fine / J'oublie mon chagrin" (Sinto seu peito / E sua cintura fina / Esqueço minha tristeza), mostrando como o afeto pode aliviar temporariamente o sofrimento. Referências à "petite mandigotte" (pequena mendiga) e à "odeur de fièvre / De gosse mal nourrie" (cheiro de febre de criança mal nutrida) evidenciam a dura realidade social dos personagens, mas também humanizam e valorizam a figura da "princesse de la rue" (princesa da rua). O refrão, ao mencionar as escadarias da Butte e as asas dos moinhos protegendo os amantes, reforça Montmartre como um lugar de desafios, mas também de abrigo e sonhos, mesmo que esses sonhos sejam breves, como no verso final "Mon rêve évanoui" (meu sonho desvanecido).