Samba-Enredo 1988 - Em Busca do Ouro

Crítica social e história em “Samba-Enredo 1988 - Em Busca do Ouro”

"Samba-Enredo 1988 - Em Busca do Ouro", do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro (RJ), faz uma análise crítica e irônica sobre como a busca pelo ouro e outras riquezas influenciou a história e a cultura do Brasil. Logo no início, versos como “Minha fantasia vale ouro / Meu tesouro se espalha na avenida” mostram que, no carnaval, o verdadeiro valor está na criatividade e na celebração coletiva, não no ouro material. A menção ao “toque de Midas” reforça a ideia de que a ambição desenfreada pode trazer consequências negativas, assim como na lenda do rei Midas.

A letra percorre momentos marcantes da história brasileira, como o ciclo do ouro em Minas Gerais, a arte barroca feita por “negros de ofício e artistas”, e a figura de Chico Rei, símbolo de resistência e ascensão de ex-escravos. A presença de Xangô, orixá ligado à justiça, destaca a influência afro-brasileira e sua relação com o ouro. O samba também ironiza o ciclo do café, chamado de “milagre” e “ouro negro”, mas que resultou em exploração e desigualdade. Ao citar a descoberta do petróleo na Bahia e os “interesses ocultos”, a letra sugere que as riquezas naturais do país frequentemente beneficiaram poucos e deixaram um legado de exploração.

No final, versos como “Serra Pelada já está nua / Mas minha alegria continua / Nem de ouro, nem de prata / O Cruzado tanto fez que virou lata” criticam a exaustão das minas e o fracasso econômico do Plano Cruzado. Apesar das desilusões, o samba valoriza a capacidade do povo brasileiro de celebrar e resistir, transformando a busca pelo ouro em símbolo de esperança e criatividade diante das dificuldades.