Je Cours

A busca incessante por sentido em “Je Cours” de Stromae

Em “Je Cours”, Stromae utiliza a repetição de frases como “Je cours, je ris” para mostrar que correr e rir não são sinais de felicidade, mas formas de lidar com a pressão e o vazio existencial. O riso aparece como uma defesa diante da incerteza sobre o próprio caminho, evidenciada no verso “J’sais pas où je vais, ni où j’suis” (“Não sei para onde vou, nem onde estou”). A sensação de estar sempre atrasado e fugindo, sem nunca chegar a lugar algum, é reforçada pelo videoclipe, no qual Stromae corre atrás de uma van sem nunca alcançá-la, simbolizando a busca constante por um propósito que parece sempre fora de alcance.

A letra também aborda o medo do esquecimento e a pressão por reconhecimento, como em “Je n’ai pas peur de la mort, mais de l’oubli” (“Não tenho medo da morte, mas do esquecimento”). Stromae ironiza a busca por riqueza e fama ao afirmar que não sonha em “toucher le pactol” (“ganhar na loteria”), reconhecendo a futilidade desses desejos e sua própria má sorte, como em “je brasserai des liasses avec ma malchance” (“vou mexer com maços de dinheiro com meu azar”). A influência da house e acid house, com batidas repetitivas e sintetizadores, reforça a sensação de urgência e inquietação, refletindo o estado mental do narrador: sempre em movimento, mas sem direção. Assim, Stromae faz uma crítica à vida moderna, marcada pela ansiedade, pela busca de sentido e pelo medo de ser esquecido, tudo embalado por uma energia dançante que contrasta com a profundidade do tema.