Défiler

Crítica social e identidade em “Défiler” de Stromae

Em “Défiler”, Stromae faz um paralelo entre o desfile de moda e o percurso da vida, usando o verbo "défiler" para mostrar como as pessoas seguem caminhos muitas vezes impostos, sem questionar. O termo carrega o duplo sentido de desfilar e simplesmente passar, reforçando a ideia de que a vida escorre rapidamente e que somos pressionados a seguir padrões. Isso fica claro em versos como “on marche dans les rangs / En groupe ou pas, on marche seul” (“andamos em fileiras / Em grupo ou não, andamos sozinhos”), mostrando a solidão mesmo em meio à multidão. A música, criada para o desfile da Mosaert, marca a crítica de Stromae à superficialidade e à mercantilização do indivíduo, tanto na moda quanto na sociedade, como em “on a une valeur marchande, du plus jeune âge au linceul” (“temos um valor de mercado, da infância ao caixão”).

A letra adota um tom reflexivo e irônico ao abordar a busca por sentido e autenticidade diante da pressão social e da cultura da aparência. Stromae ironiza a dependência da tecnologia e dos padrões de beleza em versos como “La tête dans son téléphone / Sans écouteurs, on la croirait folle / Sans Google, on la croirait conne / Et sans filtres, on la croirait bonne” (“A cabeça no telefone / Sem fones de ouvido, achariam que ela é louca / Sem Google, achariam que ela é burra / E sem filtros, achariam que ela é bonita”), criticando o julgamento superficial e a necessidade de validação digital. O trecho “L'argent pourrit les gens et il les rend beau en même temps, c'est fascinant” (“O dinheiro corrompe as pessoas e as deixa bonitas ao mesmo tempo, é fascinante”) destaca a contradição entre o poder do dinheiro de corromper e, ao mesmo tempo, facilitar a aceitação social. A repetição de “Dites-moi comment ça marche” (“Me diga como isso funciona”) mostra a perplexidade diante das regras não ditas da vida moderna, enquanto “J'y vais pas à pas” (“Vou passo a passo”) sugere a tentativa de resistir ao ritmo imposto, buscando um caminho próprio.