I'am Africa

Ironia e crítica cultural em "I Am Africa" do The Book of Mormon

A música "I Am Africa", do musical The Book of Mormon, utiliza a ironia para criticar a apropriação cultural e a visão superficial que muitos ocidentais têm sobre a África. Os missionários recém-chegados a Uganda proclamam frases como “I am Africa” e “We are Africa” (Eu sou a África / Nós somos a África), mesmo sem qualquer conexão real com o continente. Ao fazer isso, a canção expõe e satiriza a tendência de alguns estrangeiros de se apropriarem de identidades e causas africanas de forma rasa e desinformada.

A letra mistura clichês como “the strength of the cheetah” (a força da chita), “the noble lion king” (o nobre rei leão) e referências a figuras como Nelson Mandela e os “lost boys of the Sudan” (meninos perdidos do Sudão), com imagens triviais como “a monkey with a banana” (um macaco com uma banana) e “a tribal woman who doesn't wear a bra” (uma mulher tribal que não usa sutiã). Essa justaposição evidencia o contraste entre a realidade africana e a forma simplista como ela é retratada por quem pouco a conhece. A menção a Bono, conhecido por seu ativismo na África, amplia a crítica ao mostrar como até celebridades podem reforçar estereótipos ao invés de promover uma compreensão genuína. A música também faz referência às ideias de Edward Said sobre o Orientalismo, colocando os missionários como salvadores e os africanos como ingênuos, destacando o tom paternalista dessas atitudes. O tom satírico da canção convida o público a refletir sobre a importância de respeitar e compreender a diversidade cultural africana, evitando reduzi-la a estereótipos exóticos.