I Can't Win

Derrota social, cinismo e tédio urbano em “I Can't Win”

Mesmo com batida ágil (97 BPM) e guitarras brilhantes em Si maior (B major), “I Can't Win” encerra Room on Fire (2003) num tom de resignação. A sensação é de inadequação crônica e auto-sabotagem. A letra expõe solidão em plena multidão: “That was you up on the mountain, all alone and all surrounded” (Era você na montanha, sozinho e totalmente cercado). O esforço inútil aparece em “Walking on the ground you’re breaking” (pisando no chão que você está rompendo) e em “1 - 2 tries won’t do it / You do it all your life and you never get through it” (1–2 tentativas não resolvem / você faz isso a vida toda e nunca consegue superar). O refrão soa como um júri permanente: “Good try, we don’t like it / we won’t take that shit” (boa tentativa, a gente não gostou / não vamos aceitar essa merda). E a descartabilidade das opiniões e relações surge em “Everything they had to say / Had been erased in just one day” (tudo o que eles tinham a dizer / foi apagado em apenas um dia).

Na segunda metade, a narrativa desce para a noite: “Things in bars that people do / When no one wants to talk to you” (coisas em bares que as pessoas fazem / quando ninguém quer conversar com você). Entra o cinismo afetivo de “these girls were easy” (essas garotas eram fáceis) e o sexo como transação em “Happy that you said you’d mount me” (feliz porque você disse que me montaria), mas o vazio persiste: “Some nights come up empty handed” (algumas noites acabam de mãos vazias). Há fuga constante em “Wait now / By the sidewalk / Yes, I’ll be right back” (espera aí / na calçada / sim, já volto). O mantra “I can’t win” (eu não consigo vencer) dá o veredito. A ironia final é musical e histórica: mesmo tocada na TV (Late Night with Conan O’Brien, na turnê de Room on Fire), a faixa zomba da busca por aprovação — “Good try, we don’t like it” (boa tentativa, a gente não gostou) — como se nada salvasse o jogo.