Holding On

“Holding On” e a casa como território de sobrevivência

Em “Holding On”, do Thrice, no álbum Horizons/West (2025), a letra organiza um inventário de objetos e marcas no corpo que expõem segredo, luto e sobrevivência. Essa estrutura transforma a casa em cenário do trauma e do cuidado, e o refrão soa como fala de amparo — vinda de alguém próximo ou da própria consciência. As imagens de desgaste e fragilidade — “there’s a fray in the thread” (há um fio puído), “there’s the gray on your head” (há grisalho nos seus cabelos), “there’s the noise that never ends” (há um ruído que não cessa) — condensam exaustão contínua, como sugere o contexto da faixa. A concretude de “there’s the blood on your shirt” (há sangue na sua camisa) aproxima o trauma do cotidiano, enquanto “there’s the lie that you buried under the lemon tree” (há a mentira que você enterrou debaixo do limoeiro) aponta para um segredo soterrado — memória incômoda ou culpa que insiste em voltar. Já “the turn of the lock and key” (o giro da chave na fechadura) oscila entre abrigo e clausura. No refrão, “just hold on, I know you’re tired... just to breathe without the pain” (apenas aguente firme, eu sei que você está cansado... só para respirar sem dor) oferece consolo direto, alinhado à ênfase em resiliência que cerca a canção.

No segundo bloco, surgem frestas de alívio sem apagar o peso: “there’s an eye in the storm” (há um olho na tempestade) e “there’s a place where it’s warm” (há um lugar quente) sugerem calma possível no meio do caos. A memória e o desejo persistem em “there’s a picture in a frame” (há uma foto numa moldura) e “the dream that you’ve carried / covered in fingerprints” (o sonho que você carregou / coberto de impressões digitais), um ideal tão manuseado que já mostra marcas. O luto aparece frontalmente em “there’s the crack in the urn” (há a rachadura na urna), e “there’s a plaque that sings your praise” (há uma placa que exalta você) pode ser prêmio ou placa memorial, entre vida e homenagem póstuma. “There’s the pillar of salt” (há o pilar de sal) remete à paralisia de quem olha para trás, enquanto “the pills that you’ve swallowed since” (os comprimidos que você engoliu desde então) indicam tentativas concretas de seguir. Ao repetir “keep holding on” (continue firme), a canção fecha como um mantra de perseverança: reconhece a dor, mas insiste na continuidade, apontando para pontos de luz — o corredor aceso, o lugar quente, o olho da tempestade.