Bastard

Conflitos familiares e autodepreciação em “Bastard” de Tyler, The Creator

“Bastard”, faixa de abertura do álbum homônimo de Tyler, The Creator, já começa com intensidade ao apresentar uma sessão de terapia fictícia com o Dr. TC. Essa estrutura narrativa serve para expor de forma direta os conflitos internos do artista, principalmente a ausência do pai e a relação difícil com a família. Quando Tyler afirma “My father's dead, well I don't know, we'll never fucking meet” (“Meu pai está morto, bem, eu não sei, nunca vamos nos encontrar”), ele revela o vazio e a raiva causados pela ausência paterna, um tema que se repete ao longo da trilogia iniciada neste álbum. O tom confessional e agressivo da faixa reflete o desejo de Tyler de provocar e desafiar padrões, algo que ele mesmo destacou ao relembrar o lançamento do disco.

A letra mistura experiências pessoais e imagens sombrias para ilustrar o estado mental de Tyler na adolescência, como em “I cut my wrist and play piano cause I'm so depressed” (“Eu corto meu pulso e toco piano porque estou tão deprimido”) e “Somebody call the pastor, this bastard is so possessed” (“Alguém chame o pastor, esse bastardo está tão possuído”). Essas passagens expressam sentimentos de inadequação, solidão e autodestruição, ao mesmo tempo em que ironizam a visão dos outros sobre sua personalidade. O sarcasmo aparece em versos como “I'm bad for you kids to listen to / Soy is not the choice, I'm bad milk, drink it” (“Sou ruim para vocês ouvirem / Soja não é a escolha, sou leite estragado, beba”), reforçando o tom rebelde e autêntico da estreia de Tyler. Composta quando o artista tinha entre 16 e 17 anos, a faixa aborda temas como bullying, isolamento, sexualidade, saúde mental e frustrações familiares, funcionando como um retrato cru da juventude de Tyler e um manifesto de busca por pertencimento.