Samba-Enredo 2023 - Rosa Maria Egipcíaca

Resistência e fé em "Samba-Enredo 2023 - Rosa Maria Egipcíaca"

A letra de "Samba-Enredo 2023 - Rosa Maria Egipcíaca", do G.R.E.S Unidos do Viradouro (RJ), retrata a trajetória de Rosa Maria Egipcíaca, destacando como ela transformou a dor da escravidão em força espiritual e coletiva. Ao chamá-la de "a flor que caminhou sobre os espinhos", o samba mostra como Rosa, mesmo marcada pela escravidão e perseguição, tornou-se símbolo de fé e resistência. O trecho “Caminho onde o corpo foi prisão / Ouro que deixou as cicatrizes” faz referência ao período em que Rosa foi escravizada nas minas de ouro de Minas Gerais, conectando sua história pessoal ao sofrimento do povo negro no Brasil.

A música também celebra a superação e a espiritualidade de Rosa, especialmente ao mencionar sua obra escrita e suas visões místicas: “Me entrego a escrever a predição / Lágrima nas contas do rosário”, remetendo ao livro "Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas" e à sua devoção religiosa. Elementos de ancestralidade e cultura africana aparecem em versos como “Rainha do espelho mar / Na pele do tambor”, evocando a travessia do Atlântico e a força dos rituais afro-brasileiros. Expressões como “É vento na saia da preta courá / Na ginga do Acotundá é ventania” remetem à dança, à espiritualidade e à resistência cultural. O samba aborda ainda a perseguição religiosa sofrida por Rosa, acusada de heresia pela Inquisição, nos versos “Venci a heresia na fé dos divinos / A mais bela rosa aos pés do senhor”, mostrando como ela transformou a opressão em fé e esperança. Ao se autodeclarar “imagem de Deus” e “a santa que o povo aclamou”, a letra reafirma a importância histórica e simbólica de Rosa Egipcíaca como exemplo de superação, espiritualidade e orgulho para o povo negro brasileiro.