Munchkin Land

De tirania a festa em “Munchkin Land”: humor e rito

A canção transforma um acidente brutal em rito de libertação coletiva: um ciclone vira “milagre” e a queda de uma casa inaugura heroísmo. Com música de Harold Arlen e letra de E.Y. Harburg, o número usa trocadilhos (witch/which/hitch/pitch/twitch/stitch) para reduzir o terror da bruxa a comédia. Glinda conduz como mestra de cerimônias — “Come out, come out, wherever you are” (Saiam, saiam, onde quer que estejam) — e apresenta Dorothy como “the young lady, who fell from a star” (a jovem que caiu de uma estrela). Surge o jogo de sentidos: os Munchkins a veem como ser celeste, enquanto Dorothy rebate que “Kansas… is the name of the star” (Kansas... é o nome da estrela), confundindo “estrela” com seu lugar de origem. Esse choque firma o tom de fantasia e desencontro cultural típico de Oz e prepara o alívio de um povo oprimido.

O trecho “It really was no miracle” (Não foi nenhum milagre de verdade) desmonta a aura mística com narrativa quase slapstick: o vento girou, a casa chacoalhou, as dobradiças soltaram e, por acaso, a construção despencou sobre a Wicked Witch — no filme, a Bruxa Má do Leste, governante do quadrante oriental que inclui Munchkinland. Em seguida, os Munchkins agradecem com doçura e hipérbole — “You’ve killed her so completely” (Você a matou por completo) — e oficializam a alegria: “Let the joyous news be spread/The Wicked Old Witch at last is dead!” (Que a jubilosa notícia se espalhe/A bruxa velha e malvada enfim está morta!). No clássico de 1939 “The Wizard Of Oz”, a sequência ganha coreografia e um elenco de atores com nanismo, cristalizando Munchkinland na cultura pop. O próprio “Munchkin”, de origem incerta e possivelmente germânica, reforça o tom brincalhão. “Munchkin Land” encena a chegada de Dorothy, a morte acidental da tirana e o nascimento imediato de uma comunidade liberta.