Triumph

“Triumph”: unidade, técnica e legado do Wu-Tang Clan

“Triumph” é uma marcha coletiva de seis minutos sem refrão: os nove membros e Cappadonna se revezam, e a ausência de hook vira manifesto de unidade e perícia. O clipe de Brett Ratner, com o grupo em enxame, reflete imagens como “Killa Beez” (Abelhas Assassinas) e “Queen Beez” (Abelhas Rainhas) e a linha “fifty gold, sixty platinum” (cinquenta discos de ouro, sessenta de platina), convertendo o Wu-Tang em força que se espalha e domina território. A produção cinematográfica de RZA — cordas sombrias, batida rígida — soa como trilha de guerra para rimas densas. O verso inaugural de Inspectah Deck, celebrado como um dos maiores, funde ciência, filosofia e tática: “I bomb atomically… Socrates’ philosophies” (eu bombardeio de forma atômica... filosofias de Sócrates) anuncia supremacia, com “rap tactics” (táticas de rap) que acorrentam as massas, espada “Shinobi”, gás lacrimogêneo e “control the globe” (controlar o globo). O Clan retorna em 1997 afirmando permanência e comando coletivo.

Cada entrada é um ataque com assinatura própria, costurando referências que ampliam essa conquista: cinema e cultura pop — “Guns of Navarone” (Os Canhões de Navarone), “Ghostrider” (Motoqueiro Fantasma), “A Streetcar Named Desire” (Um Bonde Chamado Desejo), trocadilho com “immortal combat” (jogo “Mortal Kombat”) —, rua e geopolítica — “Sing-Sing” (prisão Sing Sing), “Sicily” (Sicília) —, e tecnologia de estúdio — “Novation” (Novation). Pulsa a doutrina da Nação dos Deuses e Terras em “perpendicular to the square” (perpendicular ao esquadro), “cypher” (cifra/círculo), invocações a “Allah” (Alá), “Earth — ninety-three million miles from the first” (Terra — a noventa e três milhões de milhas do Sol) e “Black Noble Drew Ali” (Nobre Drew Ali negro); Masta Killa surge como “High Chief Jamel-Irief” (Grande Chefe Jamel-Irief), guiando o ritual que “dá visão aos cegos”. Os duplos sentidos reforçam a violência simbólica — “lyrically perform armed robbery” (realizo assalto à mão armada, liricamente), transformar o show em “war of the masses” (guerra das massas) —, mas o motor é resiliência e disciplina: “play my position… standing firm” (jogar na minha posição... mantendo-me firme). Sem refrão, o próprio coletivo vira o refrão: “The saga continues… Wu-Tang” (a saga continua... Wu-Tang).