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Sem Chances

509-e

O ambiente tá calmo, o movimento tranquilo
Chegou a hora, manos, dedo no gatilho
Eu tomo a portaria, vocês enquadram os bico
Se o mão branca piscar, é aquilo
Não tô de brincadeira, vim pra buscar
Quero esse malote e vou levar
Custe o que custar, ninguém vai me parar
Que Deus me abençoe e me ajude a voltar

Reinaldo, voz ativa na quebrada
Respeitado, bem visto pela rapaziada
Um cara justo em qualquer situação
Lado a lado, parceiro sangue bom
Há quatro meses saiu da detenção
Reincidente, 157 bom ladrão
De ponta a ponta, foram 5 anos
Mó saudade da família, dos manos

Saiu dizendo que pra lá não volta mais
Vai ficar de boa, vai ficar na paz
Alguns comparsas fazem convites
Mas ele, na fé, não se empolga, resiste
Não quer se envolver, prefere esquecer
O tempo na prisão só lhe fez sofrer
Conhece bem a real do lugar
Ser preso novamente seria como se matar

O tempo passa e a melhora não vem
Nada de novo, nada anda bem

Quando criança, ele era esperança
Mas lhe deram a favela como herança
Entre becos e vielas, era aquilo
Drogas, tretas, calibres, tiros
Essas paradas são um convite ao prazer
Quem pode mais chora menos, pode crer
Por pouco tempo, você tem o que quer
Carros de luxo, dinheiro, mulher

Na maioria das vezes, é assim
Você mesmo planeja seu fim
Mas isso sem saber, sem perceber
No Brasil, a TV que educa você
Um cara certo no lugar errado
O problema não é ser favelado

O problema é não ter orgulho
Não ser incentivado, não ter estudo
Tudo isso pra favela é negado
A intenção é que o povo seja limitado
O barato é louco e o processo é lento
Questão de tempo ir pro arrebento

Sem um trampo, sem dinheiro
A necessidade lado a lado o tempo inteiro
Ex-presidiário não inspira confiança
Todos querem tê-lo à distância
Só a família é quem chega passo a passo
Mas o dinheiro da coroa tá escasso

Manter a calma ele tenta
Diante do problema ele pensa
Ela já me criou, chegou a minha vez
Quero retribuir o que ela já fez
Amanhã vou até o bar do Dito
Espero conseguir aquele bico

Manhã chuvosa, o dia começa
Me sinto angustiado, que porra é essa?
Rezo um Pai Nosso, peço proteção
Peço a Deus que alguém me estenda a mão
Minha mãe me deseja sorte
Em pensamentos deseja que eu volte
Meu filho, vai com Deus
Que Deus te acompanhe, vê se não demora
Eu tô te esperando

Na rua do bar, posso ganhar
Vários carros estacionados lá
Intuição é foda, quem é tem instinto
Hoje é segunda e do mês dia cinco
Me aproximando, começo a entender
Alguma coisa tá pra acontecer

Quatro homens conhecidos na mesa
Um dos manos me oferece cerveja
Como não bebo, a breja não quis
Mas o mano levanta, me abraça e diz
Aí, Reinaldo, eu te conheço bem
Catador aqui na área igual não tem
No nosso time tá faltando um irmão
A fita é dada, ladrão, mó mamão

Digo que não, me esquivo
Nem pensar em voltar pro distrito
Neste momento, preciso ser forte
Aí, maluco, eu não vou, mas boa sorte

Volto atenção pro dono do bar
Falô, Dito, e aquela vaga vai me arrumar?
Aí, Reinaldo, tá brabo, irmão
O movimento tá embaçado
Eu tô no maior sufoco
Ultimamente tô vivendo só de fé
Você entende, né?
Firmeza total, aí, fica na fé

Sinto na veia meu sangue ferver
O que faço, fazer o quê?
Na garganta, um nó, o corpo treme
Aqui é o crime e não o creme
Lá na goma tá tudo esquisito
Pagar as contas, comer, é preciso

O que me resta, não tô querendo
Mas não tô podendo ficar sofrendo
Talvez eu vá e consiga voltar
Cadeia novamente? Aí, nem pensar


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