Apenas Um Sonho

Esperança e realidade no cotidiano de "Apenas Um Sonho"

"Apenas Um Sonho", do 509-E, retrata de forma direta o contraste entre esperança e desilusão vividos por quem está no sistema prisional. O refrão otimista – “Eu logo saio daqui, e vou voltar a sorrir, tristezas ficam pra trás, angústia e dor nunca mais” – expressa o desejo de liberdade, mas a letra mergulha na dura rotina do cárcere, marcada por violência, solidão e incerteza. A autenticidade da música vem da experiência real dos integrantes do grupo no Carandiru, o que se reflete no uso de gírias como “fuqueta”, “vermes” e “zoião”, aproximando o ouvinte da realidade dos presídios e dos códigos internos que regem esse ambiente.

A letra também aborda as causas sociais que levam ao crime, como a falta de oportunidades e a pressão financeira, evidenciadas em versos como “Duzentos reais por mês é complicado, estudar ter família não ta tudo errado”. O protagonista sente o peso das expectativas familiares e a saudade da companheira, que representa um dos poucos laços de esperança. Ao mesmo tempo, precisa lidar com ameaças constantes e a dificuldade de confiar em outros presos, como mostram os versos “só sobrevive quem tá nos corre né não?” e “amigo na prisão contei um em cem”. O final trágico, com a morte do personagem antes de reencontrar a mulher, reforça a crítica ao sistema penitenciário e à falta de perspectivas. O 509-E usa a música para denunciar as condições desumanas do cárcere e dar voz aos marginalizados, mostrando que, mesmo em meio à adversidade, a esperança resiste, ainda que de forma frágil.