Morrendo Sozinho

Solidão e crítica social em “Morrendo Sozinho” do A286

A música “Morrendo Sozinho”, do A286, aborda de forma direta o dilema de quem recorre às drogas para fugir da dor, mas acaba enfrentando um vazio ainda maior. O verso “Antes feliz alucinado que um são depressivo” resume esse conflito: a escolha entre o alívio momentâneo das substâncias e a realidade da depressão, um tema frequente nas periferias paulistanas retratadas pelo grupo. Expressões como “sorrisos anestesiados” e “a mente com maconha, concentrado em mais nada além de loucura e piranha” mostram a tentativa de preencher vazios emocionais com prazeres passageiros, ao mesmo tempo em que denunciam a dificuldade de encontrar sentido em meio ao caos social e à padronização das diferenças.

O contexto social é fundamental na letra, que critica a alienação, a inversão de valores e a superficialidade das novas gerações. Trechos como “Ó nós vivendo por buceta, pensando que é feliz” e “O que ontem era protesto anti racismo anti gambé, hoje os boy toca no carro e vem com gênero de axé?” apontam para a transformação de lutas sociais em modismos e para a influência do dinheiro e do sucesso na criação de conflitos e distorção de propósitos. O verso “Nosso avanço intelectual teve efeito adverso, óh como nois se mata por uns baguio sem nexo” reforça a crítica à falta de sentido nas disputas do dia a dia.

A sensação de isolamento é constante, culminando na confissão “Confesso varias vezes me sinto um louco perdido, de causa perdida, Morrendo Sozinho...”. O título e o refrão reforçam o sentimento de solidão diante de uma sociedade que não acolhe quem sofre. Assim, “Morrendo Sozinho” se destaca como um retrato honesto das contradições e desafios enfrentados por quem vive à margem, buscando sentido em meio à adversidade.