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Análise de Fake Plastic Trees, sucesso do Radiohead

Analisando letras · Por Renata Arruda

23 de Julho de 2020, às 12:00

Uma das músicas mais famosas do Radiohead, Fake Plastic Trees ficou conhecida no Brasil em 1998, após ser usada no comercial do Carlinhos, parte de uma campanha de conscientização sobre a Síndrome de Down.

A canção foi cedida gratuitamente pela banda para a propaganda.

Lançada em 1995 no álbum The Bends, Fake Plastic Trees é aberta a interpretações.

Em geral, entende-se que ela fala sobre a artificialidade de uma sociedade pautada em relações de consumo, na qual tudo e todos podem ser facilmente descartados e substituídos.

Vem conferir nossa análise de Fake Plastic Trees e entender melhor a letra da música!

Fake Plastic Trees: análise da música

Fake Plastic Trees (Árvores Artificiais) costuma ser entendida como uma metáfora sobre a superficialidade de uma sociedade baseada em aparências.

A green plastic watering can (Um regador de plástico verde)
For her fake Chinese rubber plant (Para regar uma planta de mentira)
In the fake plastic earth (Em um planeta artificial)

A música já começa falando sobre artificialidade. Uma mulher usa um regador de plástico em uma planta falsa, num planeta artificial. 

O surrealismo dessa cena nos remete a uma vida que não é de verdade, mas apenas uma imitação da realidade. A personagem vive uma vida de falsas aparências.

That she bought from a rubber man (Que ela comprou de um homem de borracha)
In a town full of rubber plans (Em uma cidade cheia de planos de mentira)
To get rid of itself (Para se livrar de si mesma)

Em mais um verso com sentido ambíguo, o letrista usa a palavra rubber man (derivada de rubberband man, ou homem dos elásticos, em tradução literal), que na gíria significa traficante de drogas. Ou seja, uma pessoa que vende produtos sintéticos.

Assim como os produtos, ele mostra que uma cidade inteira pode ser feita de planos artificiais, para se livrar de si mesma. O que isso significa?

Escrita em uma época em que algumas áreas da cidade de Londres estavam perdendo sua identidade original para se tornarem áreas com arranha-céus e plantas falsas, a letra se refere à industrialização que descaracteriza uma região para deixá-la com um aspecto impessoal.

Metaforicamente, fala da adoção de novos valores pela sociedade, baseados em superficialidades.

It wears her out (Isso a desgasta)

Assim, a mulher que vive de aparências, em meio a tantos valores e cenários plastificados e ilusórios, se sente completamente exausta por não poder ser ela mesma.

She lives with a broken man (Ela vive com um homem quebrado)
A cracked polystyrene man (Um homem de poliestireno rachado)
Who just crumbles and burns (Que apenas se esfarela e queima)

Além da mulher, temos um outro personagem na história: um homem cujo espírito foi corrompido.

Como veremos na estrofe seguinte, ele trabalhava como cirurgião plástico, manipulando e injetando materiais artificiais nos corpos alheios.

Assim, a letra conta que esse homem não passa de um poliestireno (material do qual é feito o isopor), que se desfaz completamente. Ele mesmo não se sente como uma pessoa real.

He used to do surgery (Ele costumava fazer cirurgias)
For girls in the eighties (Para garotas nos anos oitenta)
But the gravity always wins (Mas a gravidade sempre vence)
And it wears him out (E isso o desgasta)
It wears him out (Isso o desgasta)
It wears (Isso desgasta)

Como adiantamos, a vida do homem foi dedicada à cirurgia plástica em uma sociedade obcecada pela juventude, que se submete a procedimentos cirúrgicos para erradicar qualquer característica ou marca indesejada.

No entanto, a gravidade sempre vence. Ou seja, é impossível tentar viver de aparências durante muito tempo, porque a natureza irá levar a melhor no final e nada disso terá feito sentido. 

Essa constatação faz com que o homem se sinta frustrado.

She looks like the real thing (Ela parece com algo real)
She tastes like the real thing (Ela tem o gosto de algo real)
My fake plastic love (Meu amor artificial)

Aqui, o narrador se encaixa na história pela primeira vez. Novamente, há um sentido ambíguo nos versos.

Isso porque a frase tastes like the real thing (tem o gosto de algo real) é muito utilizada nas propagandas de alimentos, principalmente nas que são voltadas para dietas. 

O termo real thing (coisa real) foi usado na propaganda pela primeira vez pela Coca-Cola, nos anos 70, quando a marca lançou o produto Coca-Cola Zero. 

Assim, o autor parece estar falando da artificialidade estética à qual as pessoas estão submetidas. Além das cirurgias plásticas, há toda uma indústria de alimentos dietéticos feitos para que as pessoas atinjam uma “aparência idealizada”, distante da real.

Em uma outra interpretação, a letra também pode estar falando da superficialidade dos relacionamentos.

Embora seu objeto de desejo tenha as características de uma pessoa real, a relação entre eles é afetada e falsa. Não é amor de verdade.

But I can’t help the feeling (Mas eu não consigo evitar o sentimento)
I could blow through the ceiling (Eu poderia explodir tudo até o teto)
If I just turn and run (Se eu simplesmente virar e correr)

Nesse ponto, a música deixou a melancolia de lado e entrou em seu clímax, como se o compositor estivesse buscando por um momento de verdade, exausto de tanta artificialidade.

Ele sente como se pudesse deixar essa realidade superficial na qual está preso e simplesmente ir embora.

And it wears me out (E isso está me esgotando)
It wears me out (Isso está me esgotando

Mas ele não pode e isso acaba com suas forças. Ele se dá conta de que faz parte do mesmo universo que a mulher e o cirurgião.

And if I could be who you wanted (E se eu pudesse ser quem você queria)
If I could be who you wanted (Se eu pudesse ser quem você queria)
All the time (O tempo todo)

O narrador sabe que não pode viver de aparências e ser a pessoa perfeita que esperam que ele seja. No entanto, os versos dão a entender que ele gostaria de atender às expectativas.

Dessa forma, ele parece admitir que ser fake tornaria suas relações mais fáceis. No entanto, ele não consegue ser assim.

A inspiração para Fake Plastic Trees

Fake Plastic Trees foi escrita em uma época em que o Radiohead sofria pressão da gravadora para lançar um sucesso no mesmo nível de Creep. No entanto, não era isso o que a banda queria fazer.

Radiohead fake plastic trees
Créditos: Divulgação

Sobre o assunto, Thom Yorke comentou: Terminamos a música pensando ‘por que temos que nos curvar a isso? Não é uma questão de atender a uma demanda’.

A inspiração para um mundo plastificado surgiu da observação do processo de revitalização da Canary Wharf, uma área portuária de Londres que se tornou o distrito financeiro da cidade. Durante as obras, plantas artificiais teriam sido colocadas lá.

Thom Yorke também comentou que a música foi “o fruto de uma piada que não era bem uma piada, durante uma noite muito bêbada e solitária, em que eu meio que surtei”.

Em outra ocasião, ele afirmou que “escrevi esses versos e ri. Achei muito engraçado, principalmente a parte sobre poliestireno”.

Mais letras do Radiohead

É fã do Radiohead e gostou de saber mais sobre Fake Plastic Trees? Então não deixe de conferir também o significado de Creep, grande clássico da banda inglesa!

significado creep radiohead

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