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Conheça a história da música Hurricane, narrativa de Bob Dylan

Analisando letras · Por Érika Freire

13 de Agosto de 2021, às 19:00

Uma das mais pungentes da carreira de Bob Dylan, a música Hurricane tem uma história interessante e está presente no álbum Desire, o décimo da discografia do cantor de folk, lançado em 1976.

Bob Dylan
Créditos: Divulgação

Dylan compôs a música inspirada na vida do lutador de boxe Rubin “Hurricane” Carter, que foi condenado em 1966 acusado de matar três homens brancos em um bar de Nova Jersey. 

É uma das músicas baseadas em histórias reais mais representativas, escrita por Bob Dylan em uma narrativa contundente e que se tornou símbolo da campanha pela libertação do pugilista. 

Bateu a curiosidade para conhecer mais sobre a história da música Hurricane, do Bob Dylan? Então confira com a gente!

A história da música Hurricane, de Bob Dylan

Hurricane é uma narrativa longa escrita por Bob Dylan, que se inspirou na prisão injusta do lutador de boxe Rubin Carter. Mais conhecido como Hurricane, ele foi um boxeador de Nova Jérsei e nasceu em 1937.

Rubin Carter Hurricane
Créditos: Divulgação

Depois de se alistar no exército americano, começou a praticar o esporte. Depois que foi dispensado do serviço militar, acabou preso por roubo.

Saiu da prisão em 1961 e retornou ao esporte, saindo vitorioso de diversas lutas por nocaute. 

Foi daí que surgiu o apelido de Hurricane, que Bob Dylan anuncia em sua canção afirmando que ele poderia ter sido campeão se a história fosse diferente:

Here comes the story of the Hurricane (Aí vem a história do Furacão)
The man the authorities came to blame (O homem que as autoridades culparam)
For somethin’ that he never done (Por algo que ele nunca fez)
Put in a prison cell, but one time he could-a been (Jogado em uma cela de prisão, certa vez ele poderia ter sido)
The champion of the world (O campeão do mundo)

Tudo parecia caminhar bem para Carter quando, em 1966, ele e seu amigo John Artis foram presos sob a acusação de que teriam matado três pessoas brancas em Paterson, Nova Jersey. 

Mesmo que ambos tenham negado o crime e que existissem diversas inconsistências por parte da acusação e das testemunhas, eles foram condenados. 

A condenação e a prisão de Hurricane

Carter e o amigo eram negros e foram condenados a prisão perpétua por um juri formado por brancos, detalhe este que entrou na narrativa da música:

The trial was a pig-circus, he never had a chance (O julgamento foi um circo de porcos, ele nunca teve chance)
The judge made Rubin’s witnesses drunkards from the slums (O juiz desqualificou as testemunhas de Rubin como bêbados das favelas)
To the white folks who watched he was a revolutionary bum (E para os brancos que assistiam, ele era um marginal revolucionário)
And to the black folks he was just a crazy nigger (E para os negros, só mais um cara maluco)
No one doubted that he pulled the trigger (Ninguém duvidou que ele puxou o gatilho)
And though they could not produce the gun (E embora não conseguissem ter provas da arma)
The D.A. said he was the one who did the deed (O promotor público disse que era ele o responsável)
And the all-white jury agreed (E o júri todo branco, concordou)

Dylan, que já acompanhava a história, tendo inclusive participado de manifestações contra a decisão de prendê-los, se deparou em 1974 com um livro escrito por Carter, uma autobiografia chamada The Sixteenth Round.

O cantor se sentiu ainda mais solidário à história injusta de Carter, chegou a visitá-lo na cadeia e escreveu uma de suas músicas mais importantes da carreira, Hurricane

Bob Dylan e Hurrican
Créditos: Divulgação

Apesar dos esforços de Dylan e de outros movimentos pela liberdade de Carter, tendo em vista a condenação injusta e motivada por racismo, o pugilista permaneceu na cadeia por 20 anos e só teve a liberdade concedida em 1985. 

An innocent man in a living hell (Um homem inocente vivendo no inferno)
That’s the story of the Hurricane (Essa é a história do Furacão)
But it won’t be over till they clear his name (Mas não vai ter fim até limparem seu nome)
And give him back the time he’s done (E o ressarcirem pelo tempo de pena)
Put in a prison cell, but one time he could-a been (Jogado em uma cela de prisão, certa vez ele poderia ter sido)
The champion of the world (O campeão do mundo)

Processo de composição de Hurricane

A letra de Hurricane foi escrita por Bob Dylan em parceria com Jacques Levy, compositor americano e diretor de teatro de Nova Iorque.

Bob Dylan
Créditos: Divulgação

Eles fizeram uma narrativa longa, com 99 versos contando o que aconteceu na noite do assassinato dos três homens brancos.

Apesar de se concentrar em narrar o ocorrido, Dylan coloca seu ponto de vista crítico a respeito dos fatos, principalmente em relação aos depoimentos das testemunhas Alfred Bello, Arthur Dexter Bradley e Patty Valentine. 

Dylan optou por usar os nomes verdadeiros de todos, o que causou preocupação na então gravadora do músico, CBS.

Com medo de que a empresa fosse processada, decidiram contratar um perito para averiguar os depoimentos e se tudo batia com os fatos narrados na música. Foi praticamente um trabalho de jornalismo investigativo.

Após confrontar tudo, a gravadora pediu alterações de seis versos para que a canção se concentrasse exatamente na versão oficial.

Mesmo com a fama de ser um grande defensor de suas criações, assim como todo artista, Dylan não se opôs e acatou o pedido da gravadora.

Na época, o cantor estava com dificuldades financeiras e não queria ter que devolver o adiantamento recebido da gravadora, caso iniciasse alguma briga. 

Curiosidades sobre Hurricane

Os amigos Carter e Artis chegaram a passar por dois julgamentos, sendo condenados em ambos.

Uma das testemunhas, inclusive, era conhecida por cometer alguns delitos na região, porém, era branco, o que provavelmente lhe concedeu certa credibilidade.

A letra de Hurricane traz uma trecho sobre como as pessoas negras eram tratadas em Paterson: 

In Paterson that’s just the way things go (Em Paterson é assim mesmo que as coisas funcionam)
If you’re black you might as well not show up on the street (Se você for negro, talvez seja melhor nem aparecer na rua)
‘Less you wanna draw the heat (A menos que queira ser enquadrado)

Além de escrever a música, Dylan chegou a realizar diversos shows em prol de Carter, pois estava convencido de sua inocência. 

Bob Dylan e Hurricane
Créditos: Divulgação

A liberdade de Carter

Outras pessoas também se comoveram com a história do pugilista, como o ex-boxeador Muhammad Ali e uma adolescente canadense. Em 1979, ela iniciou mais uma campanha junto com os advogados Leon Friedman e Myron Beldock.

A iniciativa deu certo e Carter foi solto em 1985, após um juiz apontar que a condenação havia sido pautada por racismo e má fé.

Ao conquistar a liberdade, o pugilista foi morar no Canadá, em Toronto, e se tornou um grande ativista em prol da libertação de presos injustiçados. 

A história de Carter também inspirou o filme The Hurricane, com Denzel Washington no papel principal. O pugilista pode acompanhar toda a gravação do filme, dirigido pelo canadense Norman Jewison. A atuação deu a Denzel Washington o Globo de Ouro de melhor ator. 

Capa do filme The Hurricane
Créditos: Divulgação

Carter escreveu mais uma autobiografia em 2011 cujo título é Eye Of The Hurricane: My Path From Darkness To Freedom. Ele faleceu em 2014 aos 76 anos, após uma longa batalha contra um câncer de próstata. 

O cantor Zé Ramalho fez uma versão de Hurricane, chamada Frevoador.

Conheça 8 letras que parecem filmes 

Conta pra gente: gostou de conhecer a história da música Hurricane? Aproveita e vem conferir outras músicas que contam histórias incríveis em 8 letras que parecem filmes!

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