Demain C'Est Loin

Desilusão e cotidiano nas periferias em “Demain C'Est Loin”

“Demain C'Est Loin”, do grupo IAM, retrata de forma direta e impactante a realidade das periferias urbanas francesas dos anos 1990. O verso-título, “Demain, c'est loin” (“Amanhã é longe”), resume o sentimento de desesperança e a dificuldade de imaginar um futuro melhor. A música, sem refrão e com quase dez minutos de duração, mergulha no cotidiano dos bairros marginalizados, onde a sobrevivência diária se sobrepõe a qualquer sonho de mudança. A frase “on vit au jour le jour” (“vivemos um dia de cada vez”) reforça essa ideia de que o amanhã é uma abstração distante para quem enfrenta violência, repressão policial e falta de oportunidades.

A letra é baseada nas experiências reais dos integrantes do IAM e de pessoas próximas, como revelado em “Je parle de ce que mes proches vivent et de ce que je vois” (“Falo do que meus próximos vivem e do que vejo”). O texto descreve a rotina marcada pelo tráfico, pela violência e pela normalização do crime como meio de sobrevivência, com imagens como “on coupe, on compresse, on découpe, on emballe, on vend” (“a gente corta, comprime, corta, embala, vende”) e “les armes poussent comme la mauvaise herbe” (“as armas crescem como erva daninha”). A música também critica a corrupção política e o preconceito social, exemplificado em “les décideurs financiers plein de merde dans la vue” (“os decisores financeiros cheios de merda na vista”). Metáforas como “on crache du béton, chie du béton” (“cuspimos concreto, cagamos concreto”) mostram como o ambiente hostil molda a vida dos jovens. O jogo de palavras entre “la fin” (o fim) e “la faim” (a fome) destaca como a necessidade pode levar a atos extremos. No fim, a repetição de “demain, c'est loin” sintetiza a ausência de esperança e a urgência de viver o presente.