Soldado do Morro

Desigualdade e sobrevivência em "Soldado do Morro" de MV Bill

Em "Soldado do Morro", MV Bill retrata de forma direta como a marginalização e a falta de oportunidades empurram jovens das favelas para o crime. O refrão repetido, “A sociedade me criou mais um marginal”, destaca que o personagem da música é resultado do abandono social, e não alguém que simplesmente escolheu o caminho do crime. A letra descreve o cotidiano de tensão e medo, como em “Vinte e quatro horas de tensão / Ligado na polícia, bolado com os Alemão”, mostrando que a vida do "soldado do morro" é marcada pela constante ameaça e pela sensação de estar sempre à beira da morte.

MV Bill também aborda a exclusão social ao citar: “Várias vezes me senti menos homem / Desempregado e meu moleque com fome”. Esse trecho evidencia como a falta de emprego e de alternativas dignas leva muitos à revolta e à busca por sobrevivência no crime. O artista denuncia ainda o preconceito e a hipocrisia social ao comparar sua realidade com a de um “mauricinho / Criado a Sustagem e leite Ninho”, ressaltando que o destino de muitos já está definido pelo contexto em que nasceram. O videoclipe, que gerou polêmica ao mostrar crianças armadas, reforça a denúncia de que o tráfico alicia menores por falta de perspectivas, e não por glamour. MV Bill não romantiza a vida do crime, chamando-a de “suicídio lento” e reconhecendo o fim trágico que aguarda a maioria: “Eu tô ligado qual é, sei qual é o final / Um saldo negativo, menos um marginal”. A música é um alerta sobre as consequências da desigualdade e da omissão do Estado, mostrando que a violência nas favelas é resultado direto de uma sociedade que cria a guerra, mas não sofre suas consequências.