Carecas da Jamaica

Crítica à cultura pop em “Carecas da Jamaica” de Nei Lisboa

Em “Carecas da Jamaica”, Nei Lisboa faz uma crítica direta à apropriação superficial de elementos culturais estrangeiros, especialmente do reggae jamaicano, por parte de grupos brasileiros nos anos 1980. O título já carrega ironia, apontando para quem adota símbolos de outras culturas sem entender ou respeitar suas origens. A letra denuncia a falta de autenticidade e a transformação da cultura em mercadoria, como fica claro no trecho: “a pobreza das ideias dessa gente que comanda o shopping center do país”, sugerindo que a cultura está sendo esvaziada de significado e tratada apenas como produto de consumo.

Nei Lisboa reforça sua crítica ao citar Glauber Rocha e Jean-Luc Godard, ícones do cinema inovador, para mostrar o incômodo dos verdadeiros criadores diante da banalização cultural. O verso “Cada povo tem o novo que merece / E o Menudo vem com tudo e com razão” ironiza a aceitação passiva de modismos estrangeiros, como o grupo Menudo, em detrimento da valorização da produção local. A letra também destaca a desigualdade social e cultural ao distribuir “luz e sombra” aos poetas, “chatôs e chandons” aos privilegiados, e “nada” aos carecas da Jamaica. O sarcasmo atinge o ápice ao sugerir ensinar “a fome a receber cachê” às crianças do Nordeste, criticando a espetacularização da miséria pela mídia. Assim, Nei Lisboa constrói uma análise contundente sobre alienação, apropriação cultural e mercantilização da arte no Brasil.