Sapato 36

Liberdade e autenticidade em "Sapato 36" de Raul Seixas

Em "Sapato 36", Raul Seixas utiliza a imagem de um sapato menor do que o necessário para ilustrar a pressão de se adaptar a padrões que não refletem a verdadeira identidade de alguém. O verso “apertar meu pé outra vez” mostra como as pessoas, por medo, respeito ou hábito, acabam aceitando situações desconfortáveis para se encaixar em expectativas externas. No contexto dos anos 1970, essa metáfora ganha ainda mais peso, pois o Brasil vivia sob a ditadura militar. Nessa leitura, o "pai" representa o governo autoritário, enquanto o sapato apertado simboliza as restrições à liberdade individual impostas pelo regime.

A música também aborda o conflito entre gerações, com o filho exigindo autonomia: “Pai, eu já tô crescidinho / Pague pra ver, que eu aposto / Vou escolher meu sapato / E andar do jeito que eu gosto”. Raul Seixas defende a importância do respeito mútuo e do direito de cada um fazer suas próprias escolhas, sem ser sufocado por expectativas alheias. O refrão reforça esse pedido: “Você só vai ter o respeito que quer / Na realidade / No dia em que você souber respeitar / A minha vontade”. Ao final, a decisão de “partir sem brigar” e buscar um sapato que “não vai mais me apertar” representa a busca por liberdade e autenticidade, seja em relação à família ou à sociedade. Assim, a canção se destaca como um manifesto pela individualidade e contra qualquer forma de opressão.