Jovem

Pressa e estagnação em “Jovem”, da Supercombo, ao vivo

O refrão contrapõe idade e cansaço como diagnóstico geracional, não só piada física: “sou jovem, com um corpinho de ancião / mentalidade de vovô”. O verso “Eu nunca vou deixar Rogério perto dos meus sonhos” cita o nome do álbum e dá rosto ao sabotador interno: “Rogério” é o lado acomodado que o narrador mantém longe para não boicotar seus planos. A história é comum e dolorosa: ele espera “aquele ano que eu sei que eu vou bombar”, mas vive em “stand-by”, sempre “com um pé atrás”. Se jogou no mundo “sem nenhum tutorial”, sente “o mundo abrindo as costas” e, ainda assim, se agarra aos sonhos. A autoironia aparece quando admite “nunca sei aproveitar o que eu tenho em mãos”. A metáfora central opõe a oportunidade do presente à fantasia do futuro, com “milênio” como hipérbole de um amanhã que nunca chega. O clima é de ansiedade mansa: reclama, ri de si e insiste, preso entre ambição e travas.

Lançada em 2016 no álbum Rogério, “Jovem” cristaliza juventude, ambição e estagnação — por isso virou uma das mais celebradas nos shows. O contraste entre corpo jovem e cabeça “de vovô” explicita a dificuldade de curtir o agora, reforçando a expectativa de futuro versus paralisação no presente. Em 2017, a banda lançou uma compilação com versões (original, ao vivo, radio edit e uma acústica feita para a trilha de um quadro do Pânico na Band), formato que acentua o tom confessional: no acústico, o desabafo soa mais cru. No fim, a mensagem é direta: saber o que quer, temer não chegar lá e, por isso, ironizar a pressa enquanto impede que “Rogério” — pessoa, personagem do disco ou lado conformado — se aproxime o bastante para atrapalhar.