Zé Pelintra - Cidade das Torrinhas

A Dualidade de Zé Pelintra: Entre o Sagrado e o Profano

A música "Zé Pelintra - Cidade das Torrinhas" da Umbanda é uma rica tapeçaria de simbolismos e dualidades, refletindo a complexidade do personagem Zé Pelintra. Zé Pelintra é uma figura popular na Umbanda e no Catimbó, conhecido por sua dualidade entre o sagrado e o profano. A letra da música explora essa dualidade, começando com a imagem de sete portas se fechando e uma fumaça ao contrário, simbolizando talvez a inversão de expectativas e a presença de forças espirituais.

A repetição do refrão "Eu soltei periquito, eu soltei sabiá, eu virei macumbeiro de perna pro ar" pode ser interpretada como uma celebração da liberdade e da transformação espiritual. A figura de Zé Pelintra é apresentada como alguém que transita entre mundos, vagando com um copo de cachaça e um charuto, elementos que são frequentemente associados a rituais e oferendas na Umbanda. A cachaça, descrita como "feita da cana torta", pode simbolizar a aceitação do que é imperfeito e a transformação do ordinário em algo sagrado.

A música também aborda a marginalização de Zé Pelintra, descrito como "vagabundo" na boca de quem não presta. Isso reflete a visão estigmatizada que muitas vezes recai sobre figuras espirituais que não se encaixam nos moldes tradicionais. No entanto, a letra também sugere uma redenção e uma conexão com o divino, especialmente na passagem "Quem está batendo na porta? Quem nessa porta bateu? É Jesus Sacramentado, pois Zé Pelintra sou eu". Aqui, Zé Pelintra se identifica com Jesus, sugerindo uma fusão entre o sagrado e o profano, e uma reivindicação de dignidade e respeito.

A música, portanto, é uma celebração da complexidade humana e espiritual, reconhecendo a presença do divino em todas as suas formas, mesmo nas mais inesperadas. É um convite à reflexão sobre a aceitação e a valorização das diversas manifestações do sagrado em nossas vidas.