Samba-Enredo 2020 - Viradouro de Alma Lavada

Resistência e ancestralidade em “Samba-Enredo 2020 - Viradouro de Alma Lavada”

O samba-enredo “Samba-Enredo 2020 - Viradouro de Alma Lavada”, do G.R.E.S Unidos do Viradouro (RJ), presta uma homenagem marcante às Ganhadeiras de Itapuã, mulheres negras que lavavam roupas na Lagoa do Abaeté para conquistar a liberdade de suas famílias. O verso “Ó, mãe! Ensaboa, mãe! Ensaboa, pra depois quarar” vai além da rotina das lavadeiras: simboliza purificação, resistência e o cuidado coletivo. A repetição desse refrão reforça a importância do trabalho feminino e da ancestralidade, conectando o ato de lavar à ideia de “lavar a alma”, uma metáfora para superar as dores da escravidão e buscar dignidade.

A letra destaca a força dessas mulheres ao retratar seu cotidiano: “Levanta, preta, que o Sol tá na janela / Leva a gamela pro xaréu do pescador” mostra a rotina árdua e a relevância do trabalho para conquistar a alforria: “A alforria se conquista com o ganho / E o balaio é do tamanho do suor do seu amor”. O samba também valoriza a espiritualidade afro-brasileira, invocando Oxum, orixá das águas doces, e Xangô, símbolo de justiça e força, reforçando a ligação entre fé, resistência e identidade. Ao mencionar “Faz o seu quilombo no Abaeté”, a música transforma o local de trabalho em espaço de liberdade e união, ressignificando a história de opressão em orgulho e celebração.

O enredo ainda exalta a cultura afro-brasileira ao citar expressões como “Canto das Marias, baixa do dendê / Chama a freguesia pro batuquejê” e “Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar”, mostrando a mistura de tradição, religiosidade e festa. O verso final, “É a voz da mulher!”, sintetiza o protagonismo feminino, enquanto “Kaô, o axé vem da Bahia / Nessa negra cantoria / Que Maria ensinou” reconhece a transmissão de saberes e a força coletiva das mulheres negras baianas. Assim, o samba-enredo transforma a história das Ganhadeiras de Itapuã em símbolo de resistência, fé e vitória.