Á espera

Reflexão sobre ação e responsabilidade em “Á espera”

Em “Á espera”, Valete aborda de forma direta como a passividade diante das injustiças sociais e ambientais pode ser tão prejudicial quanto a própria opressão. Logo no início, o artista relaciona a espera coletiva por mudanças — como a reconstrução do planeta, a chegada de um "homem novo" ou o resgate da democracia — à urgência de agir, destacando que o tempo está se esgotando: “Tem de ser agora já há pouco tempo na ampulheta”. O contexto da música traz referências a projetos como “Cubaliwa” e “Homo Libero”, de outros artistas engajados, mostrando uma rede de colaboração e resistência cultural.

A letra também critica o materialismo e a busca por riqueza, defendendo que a felicidade está na simplicidade e nos laços afetivos, não no dinheiro: “dinheiro não é felicidade / És mais feliz na vida simples que na suntuosidade”. Valete amplia o conceito de espera para questões pessoais e coletivas, como a espera por justiça divina, por amor verdadeiro, pela reinserção social de pessoas marginalizadas (como “Chico”) e pela superação do preconceito racial. Ele questiona a expectativa de que as soluções venham de fora, reforçando que a transformação depende da ação individual e coletiva: “o mundo só melhora quando cada um de nós melhora”. Ao citar temas como o risco de uma terceira guerra mundial, a exploração da África e a necessidade de despertar a consciência popular, Valete usa a espera como metáfora para a inércia social, mas também como um chamado à responsabilidade. A música é, assim, um convite para que cada pessoa abandone a espera passiva e se torne agente de mudança.