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Fazer loginTodo fã de Caetano Veloso sabe que a música Alegria, Alegria é essencial. Lançada em 1967, é considerada uma das principais músicas do período da ditadura. Não só por ser uma canção super marcante, mas por ter sido lançada por um dos maiores artistas da MPB, além de ser um clássico tropicalista.
Ainda assim, a música é um caso curioso: talvez a letra tenha uma interpretação diferente para cada um.
Para responder a essas perguntas, fizemos a nossa análise de Alegria, Alegria. Será que a faixa fala sobre resistência? Liberdade? Sofrimento? Dá uma olhada:
Para entender a canção, é importante lembrar que os tempos não eram fáceis, principalmente para artistas. Com a forte censura que rolava na ditadura, dizer o que você queria nunca era simples. Mas Caetano sempre foi bom com as palavras.
Alegria, Alegria foi uma homenagem à liberdade em uma época em que todos se sentiam aprisionados. Foi apresentada por Caetano no Festival da Música Popular Brasileira da Record. Apesar de ter sido a queridinha da audiência, levou o quarto lugar na premiação.
Mesmo assim, a faixa se tornou um clássico do Movimento Tropicalista, encabeçado por Caetano, Gilberto Gil, Tom Zé e Os Mutantes.
Mas, afinal de contas, o que quer dizer a letra? Vem cá ver:
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No Sol de quase dezembro
Eu vou
Nessa primeira estrofe, já dá pra notar como o compositor se sentia. Caminhar contra o vento é, em certo sentido, um ato de rebeldia: ir no sentido contrário, nadar contra a correnteza.
Já no verso sem lenço e sem documento, Caetano mostra sua liberdade, mas também o fato de não estar conformado com o sistema. O documento nada mais é do que uma identificação em uma sociedade, né?
O Sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Parece que Caetano quer demonstrar como era ser jovem naqueles tempos. Um exemplo é o uso da palavra cardinale, que pode ser uma referência à atriz italiana Claudia Cardinale. A atriz era uma musa dos anos 60, idolatrada por vários colegas de sua idade.
Ah, e notou que o cantor repete o verso eu vou? Existem várias interpretações para isso. Talvez seja só pra mostrar uma continuidade na narrativa, uma representação visual do artista seguindo na vida. Para alguns, é ainda uma forma de mostrar resistência nessa caminhada. Os obstáculos da ditadura aparecem, mas ele resiste: eu vou, eu vou, eu vou…
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
São diferentes presidentes com os quais ele notoriamente não se identifica. Mas a música não fala sobre lutar ativamente contra o regime, fala sobre seguir caminhando: e ele segue, entre dentes, pernas e bandeiras.
Ah, notou mais uma referência? Agora, Caetano cita a atriz Brigitte Bardot, ícone do cinema francês.
O Sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia?
Eu vou
Existem duas interpretações para esse trecho: a primeira, de que o eu lírico não quer se engajar, seja por desinteresse ou falta de energia. Já a segunda, é que o trecho seria uma crítica aos jovens que se mantinham alienados ou não lutavam contra o sistema.
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não? Por que não?
Assim, Caetano segue, sem se afetar pelas fotos, nomes, revistas e notícias.
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento
Eu vou
Ainda sobre a liberdade: o artista não se prendeu à escola, às pressões da sociedade ou ao casamento. Caetano reafirma que é livre, não tem lenço ou documento, e continua caminhando.
Eu tomo uma Coca-Cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou
Aqui, notamos um elemento claro do tropicalismo, assim como as referências às atrizes mencionadas: o movimento era caracterizado pela mistura da cultura brasileira com culturas gringas, especialmente a americana.
Às vezes, isso ocorria só por meio do som, que era bastante influenciado pelo rock and roll, mas também era comum que a mistura aparecesse nas letras, mostrando a cara da Tropicália.
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
Livre, mas pacifista. É interessante que Caetano reforça também a parte de não ter fuzil. Em tempos de violência, ele não pertence a esse país. Ainda assim, caminha no coração do Brasil.
Os versos seguintes são nessa linha, sempre acompanhados de uma representação visual forte. Não sei você, mas a gente ouve e já imagina o artista caminhando meio sem rumo:
Ela nem sabe, até pensei
Em cantar na televisão
O Sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Talvez o ponto da música seja justamente esse: lutar ativamente contra o regime é desgastante, doloroso. O que Caetano quer é seguir vivendo em liberdade, dando seu jeito de sobreviver.
Por que não? Por que não?
Por que não? Por que não?
Por que não? Por que não?
O compositor termina a letra em por que não?. Por que não seguir caminhando e vivendo? É uma forma otimista de fazer sua crítica, mostrando que a vida segue apesar dos pesares.
Talvez seja uma filosofia similar ao apesar de você, amanhã há de ser outro dia, como já dizia Chico Buarque.
Como deu pra ver, existem muitas formas de interpretar a letra. Isso que é legal na música, né? Cada um enxerga um significado no que o compositor canta. Especialmente na época da censura, é difícil saber o que o artista realmente queria dizer.
Mas, ainda assim, vale a pena ouvir algumas e imaginar o contexto político da época. A música é uma ótima forma de pensar sobre a história do Brasil. Por isso, selecionamos as faixas mais fortes sobre o regime ditatorial. Vem ouvir mais músicas da época da ditadura no Brasil!
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