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Conheça a história e os significados das metáforas de Chão de Giz, de Zé Ramalho

Analisando letras · Por Lorena Camilo

28 de Maio de 2019, às 07:00

Quem nunca esteve em um barzinho e escutou Chão de Giz, clássico dos anos 70, tocando e se deparou com todo mundo cantando junto com Zé Ramalho? Segundo dados divulgados pelo ECAD, essa música foi a mais tocada do artista de 2010 a 2014. Inclusive, apareceu na 10ª posição entre as músicas mais tocadas ao vivo no ano de 2014.

Zé Ramalho
Créditos: Divulgação

O mais interessante é que, mesmo a música sendo antiga, ela continua fazendo sucesso até hoje! Mas, apesar de tanta repercussão, você conhece a história da letra dessa canção e o significado que há por trás das metáforas? Se você ficou curioso, a gente te explica verso por verso!

A história por trás da música Chão de Giz

José Ramalho Neto, mais conhecido como Zé Ramalho, é um compositor, cantor e violonista que nasceu em Brejo da Cruz, na Paraíba. Passou sua infância em Campina Grande, mas em sua juventude ele e sua família se mudaram para João Pessoa. E foi a partir daí que ele passou a compor e a entrar no mundo da música. Depois de vários sucessos, consagrou-se como um dos grande cantores da MPB.

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Há uma teoria que indica que Zé Ramalho compôs essa letra poética e repleta de metáforas para lidar com um relacionamento frustrado com uma mulher casada e mais velha. Dizem que essa relação durou um bom tempo e que a amada era esposa de um homem influente da sociedade de João Pessoa, cidade em que o cantor viveu durante sua juventude. Parece até roteiro de novela, né?

Essa música é conhecida por ter várias metáforas. Que tal descobrir o que Zé Ramalho quis dizer em cada uma delas? Continue me acompanhando nesse post!

Entenda as metáforas da letra

Agora que você já sabe o contexto da música, iremos analisar verso por verso da letra para fazermos uma boa interpretação. Vamos lá:

Eu desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar

Nesse primeiro verso fica evidente que o jovem sofre com as lembranças de seu envolvimento com a mulher pela qual ele está apaixonado. Ele se sente angustiado e torturado por não conseguir parar de pensar nela.

Na primeira frase está escrito “chão de giz”, que é o título da música, e há duas possíveis interpretações. A primeira, que se refere a um chão instável, frágil. A segunda, a menos popular, que “giz” se refere a cocaína.

Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde

Já que a mulher amada era casada com um homem da alta sociedade, saíam várias fotos dela nos jornais. E, como se já não bastasse ficar lembrando dela, ele se torturava ao ficar olhando as fotografias inúmeras vezes (é isso que quer dizer amiúde: repetidas vezes). É bem provável que ele sofresse dobrado, pois ela deveria estar acompanhada do marido nas fotos, né? 💔

Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes

Pano de guardar confetes são balaios ou sacos típicos das costureiras do Nordeste, nos quais elas guardam os retalhos e restos de panos. Aqui, o jovem apaixonado, diante a tanta sofrência, decide jogar as fotos, as lembranças e o sentimento dele no saco para, assim, esquecê-la de vez. Há a repetição da frase para enfatizar a decisão de esquecer.

Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe um grão-vizir

O garoto tenta convencer a amada a ficar com ele e se dispõe a tentar de tudo para estarem juntos, mas percebe o quão inútil é, pois está disputando o coração dela com um “grão-vizir”.

Retrato de um grão-vizir
Retrato de um grão-vizir / Créditos: Divulgação

A palavra “grão-vizir” faz referência a uma figura da cultura persa que representa algo imponente, da mais alta autoridade e sociedade. O poeta se vê em uma batalha em que tem que disputar o amor da amada, mas sabe que será difícil competir com um esposo influente, poderoso e da alta classe social.

Há tantas violetas velhas sem um colibri

Essa metáfora faz referência aos dois: a mulher amada é a “violeta velha”, enquanto o cantor é o “colibri”, que é um gênero de beija-flor, alguém mais jovem e delicado.

Colibri
Colibri, gênero de beija-flor / Créditos: Divulgação

Ele revela que há muitas mulheres mais velhas que desejam ter alguém mais novo do que elas, que as desejem e as amem. Entretanto, ela não dá valor para o sentimento e para o desejo do jovem, que quer ficar com ela para viverem um “felizes para sempre”.

Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de vênus

Essa frase indica o conflito de sentimentos entre a razão e a emoção. Ele deseja usar uma “camisa de forças” para se afastar dela, para impedi-lo de se entregar a essa paixão enlouquecedora, mas, ao mesmo tempo, deseja usar uma “camisa de vênus”, que se refere ao preservativo, ao ato sexual.

Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

A palavra “gozar” nesse contexto significa que o jovem decide não se envolver mais com a mulher, nem emocional e nem, principalmente, fisicamente. Ele percebe que ela não está envolvida tanto quanto ele, porque ela se interessa apenas pelo carnal.

A metáfora do tempo de um cigarro significa que ele não quer ficar com a mulher apenas pelo curto espaço de tempo de um gozo, ou seja, pelo tempo de uma tragada.

Agora pego um caminhão
Na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar

A partir desse verso, o poeta afirma que irá se afastar, seguir outro caminho. Enfim ele percebeu que estava muito dependente e preso ao que sentia pela amada, enquanto ela não sentia o mesmo. De tanto tentar, em vão, ficar ao lado dela, se vê vencido, sem esperanças e sem forças para lutar pelo amor não correspondido.

Meus vinte anos de boy, that’s over, baby!
Freud explica

Aqui há uma referência ao pai da psicanálise, Freud, médico que se dedicou a estudar a fundo a Teoria da Sexualidade e os instintos sexuais, além de vários outros assuntos relacionados a essa temática.

A escolha da palavra “boy” remete à puberdade do “colibri”, ou seja, dele próprio. A juventude, a descoberta e as irresponsabilidade acabaram e agora ele está mais maduro e consciente de suas escolhas.

Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

A referência ao cigarro mais uma vez retoma a ideia de que ele não irá se envolver mais com a mulher, pois não vale a pena para ele, uma vez que ela quer apenas o carnal, enquanto o jovem deseja mais do que apenas sexo, e não somente uma vez, mas várias, para sempre.

Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo é assunto popular

Essa frase indica que ele já passou pela fase “profana”, que visa apenas o carnal e o prazer, guardando esse sentimento também no saco, no passado.

No mais, estou indo embora!
No mais, estou indo embora!
No mais, estou indo embora!
No mais!

No último verso, o jovem se despede desse amor, que lhe causou tanta dor, a fim de se preservar e de esquecê-la de uma vez por todas. #amorpróprio 👏👏👏

Mas e aí, como você interpreta a letra da música? Curtiu a nossa análise de Chão de Giz? Não deixe de nos contar aqui nos comentários! 👇

Aproveita, coloca o fone e vem ouvir todas as músicas do Zé Ramalho e descobrir que tem muitas outras letras intensas, poéticas e repletas de significado como essa.

Zé Ramalho
Créditos: Divulgação

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