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Conheça o significado de Pequeno Mapa do Tempo, de Belchior

Analisando letras · Por Renata Arruda

18 de Dezembro de 2020, às 19:00

Um dos principais artistas a protestar e denunciar a ditadura militar brasileira, Belchior ganhou notoriedade nos anos 70 após o lançamento do álbum Alucinação.

O músico cearense conseguiu traduzir muito bem as angústias e os anseios de sua geração, que vivia sob um regime opressor.

Belchior
Créditos: Divulgação

Dentre suas principais músicas sobre o período estão clássicos como Como Nossos Pais e Pequeno Mapa do Tempo, que refletem o sentimento compartilhado pela sociedade engajada da época: o medo.

Vem entender melhor essa história e conhecer o significado de Pequeno Mapa do Tempo!

Significado de Pequeno Mapa do Tempo

Pequeno Mapa do Tempo foi lançada em 1977 no álbum Coração Selvagem. A música faz uma crítica ao regime militar e a sua política de opressão e extermínio, expressando o medo do autor com a possibilidade de enfrentar o exílio, a tortura e até a morte.

A canção foi vetada pela Divisão de Censura e Diversões Públicas e vários de seus versos foram proibidos. De acordo com o parecer assinado pelos censores em 29 de março de 1977, a música traz mensagens de protesto político contra a realidade socioeconômico e política brasileira.

Os censores observaram, ainda, que outras músicas do compositor já haviam sido igualmente vetadas por apresentarem conteúdo de insatisfação e crítica ao regime vigente.

Pequeno Mapa do Tempo e o medo da ditadura

Com um título poético, Pequeno Mapa do Tempo procura refletir o sentimento compartilhado pelos cidadãos brasileiros que desejavam viver em uma sociedade democrática, exercendo sua liberdade e livre expressão.

Embora não deixasse de criticar o sistema vigente, Belchior admite nessa canção que vive aterrorizado pela possibilidade de ter que deixar o país, como diz nos versos:

Eu tenho medo de que chegue a hora
Em que eu precise entrar no avião

Ele ainda faz referências ao porões das unidades da Polícia Política do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão responsável pela repressão no país, onde ocorriam torturas e assassinatos. Elas podem ser vistas nesta estrofe:

Eu tenho medo de abrir a porta
Que dá pro sertão da minha solidão
Apertar o botão: cidade morta
Placa torta indicando a contramão
Faca de ponta e meu punhal que corta
E o fantasma escondido no porão

Belchior
Créditos: Divulgação

Ao falar sobre abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão, o autor faz uma metáfora, relacionando o fato de que muitas pessoas eram perseguidas pelo regime aos protestos que ele faz em sua música (o seu punhal que corta) para expressar o quanto ele teme que isso o leve a ser exilado (apertar o botão: cidade morta) ou torturado (fantasma escondido no porão).

Como artista, ele sabia que sua classe era uma das mais visadas pelos órgãos repressores, assim como eram os intelectuais, políticos e militantes. Da mesma maneira, ele sabe que não tem pra onde fugir, pois nenhum lugar é seguro.

Ele conclui a letra de forma desesperançosa. Quando fala que eu tenho medo e já aconteceu, eu tenho medo e inda está por vir, ele mostra que o terror é uma realidade que está acontecendo independente do que ele sinta e que, provavelmente, continuará a acontecer.

Além disso, o cantor faz uma referência à canção O Meu Boi Morreu, cantiga popular folclórica do tempo de colonização do Piauí, ele expressa a incerteza pelo futuro e a forma como as pessoas são descartáveis durante o regime, desaparecendo sem explicação.

Apesar de falar sobre o medo, a música em si não expressa o mesmo sentimento de terror da letra. Cantada em forma de toada, a canção assume um clima melancólico, mais de lamentação do que de revolta.

Uma importante crítica ao regime militar

Embora tenha sido vetada pela censura, Pequeno Mapa do Tempo é uma importante canção que retrata a realidade brasileira durante o período da ditadura e faz uma crítica feroz a um regime cruel que durou longos 21 anos.

Assim como ela, várias canções de protesto foram proibidas de chegar ao público. Conheça outras músicas censuradas pela ditadura.

A trajetória de Belchior

Nascido no Ceará, onde se formou em filosofia, Belchior resolveu se dedicar integralmente à música nos anos 70, unindo-se a outros artistas da região, como Fagner e Ednardo, no movimento que ficou conhecido no sudeste como Pessoal do Ceará.

Fez sucesso primeiro como compositor, emplacando hits na voz de outros artistas. Dentre eles, a mais conhecida foi Elis Regina, que gravou clássicos como Velha Roupa Colorida e Como Nossos Pais.

Belchior
Créditos: Divulgação

O reconhecimento como cantor chegou em 1976, com o lançamento do seu segundo álbum, Alucinação.

Com letras afiadas, críticas da sociedade de sua época, e uma sonoridade que bebe das fontes do rock, do baião, do country e do blues, o disco foi bem recebido, vendendo milhares de cópias.

Após 14 álbuns de estúdio lançados, ele abandonou a carreira em 2008 e mudou-se para o sul do país, onde viveu até sua morte, em 20 de abril de 2017.

Confira mais frases do Belchior

Gostou de saber mais sobre o significado de Pequeno Mapa do Tempo? Então vem conferir as melhores frases do Belchior e compreenda um pouco a genialidade do cantor!

Frases do Belchior

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