Mestre Marçal

Sabedoria popular e irreverência em “Mestre Marçal”

A música “Mestre Marçal”, de Wilson das Neves, presta uma homenagem descontraída e irônica a Nilton Delfino Marçal, figura marcante do samba carioca. A letra se destaca por incorporar ditados e expressões típicas do próprio Mestre Marçal, como “Se a onça morrer o mato é nosso” e “Se a morte é um descanso, meu bem, eu prefiro viver é cansado”. Essas frases revelam uma filosofia de vida resiliente, que valoriza a luta diária, a esperteza e a dignidade diante das dificuldades. Ao trazer essas máximas, Wilson das Neves não só homenageia o amigo, mas também apresenta ao ouvinte a visão de mundo espirituosa e prática de Marçal.

O tom coloquial e irônico da canção reflete a intimidade entre os dois sambistas e o ambiente descontraído do samba. Trechos como “Se alguém me bancar eu sei me vestir / Só me falta roupa, Iaiá, só me falta roupa” brincam com a ideia de que estilo depende de oportunidade, não de talento. Já “Vou comendo mingau pela beira do prato / Enquanto no meio ele esfria” ilustra a cautela e a paciência, características valorizadas por Marçal. A música também aborda a humildade e a aceitação das limitações, como em “Eu nasci sem saber nada / E também vou morrer / Sem aprender tudo”. O verso “Quero mais é que o mundo / Se acabe em barranco / Que é para eu morrer escorado” sintetiza o humor e a dignidade de Marçal diante das adversidades. Assim, “Mestre Marçal” vai além de uma homenagem, tornando-se um retrato autêntico e afetuoso de uma personalidade fundamental para o samba e a cultura popular brasileira.