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A biografia de Alceu Valença, ícone da música nordestina

Biografias · Por Mateus Pereira Silveira

1 de Julho de 2023, às 12:10

Representante da cultura regional, Alceu Valença é um dos grandes artistas da música nacional, principalmente por sempre trazer suas raízes nordestinas em seus trabalhos ao longo de décadas. 

Alceu Valença
Créditos: Divulgação

Influente em debates sociais, Alceu sempre esteve atento à relação entre o movimento político e a música, trazendo novas vertentes para seu repertório e cativando o público com músicas autorais e parcerias de sucesso. 

Para entender sobre essa figura tão importante para a cultura nordestina, hoje vamos conhecer a biografia de Alceu Valença. Vem com a gente! 

A biografia de Alceu Valença: onde tudo começou 

A história de Alceu Valença se inicia em São Bento Do Una, município do interior pernambucano onde o cantor nasceu, em 1946. Desde menino, ele conviveu com elementos próprios da cultura nordestina, como os violeiros, poetas de cordel e aboiadores, que conduzem os rebanhos pelas pastagens e currais. 

A maior fonte de contato eram as reuniões promovidas pelo seu avô, que levava a música e poesia para o meio da família.

Ainda criança, Alceu se mudou com seus pais para Recife, onde agregou outros elementos regionais, como a cultura da zona da mata e do litoral da capital. Isso sem falar, é óbvio, dos grupos de frevo, maracatu e ciranda, aumentando o leque de repertório do pequeno Alceu. 

Bloco de frevo
Bloco de frevo / Créditos: Divulgação

O gosto pela música não era compartilhado pelo pai, influente político pernambucano, e foi por isso que sua mãe o presenteou, em segredo, com seu primeiro violão.

A rede de influências do artista só aumentava, com ele conhecendo poetas como Nelson Ferreira e Ascenso Ferreira, e aprofundando seu conhecimento com a poesia urbana e contemporânea

Influências culturais e políticas: um Bob Dylan brasileiro

As preferências e os gostos de Alceu já eram vistos em sua adolescência e juventude, seja quando ele se aprofundava em questões sociais ou apreciava as produções da Nouvelle Vague e do Neo Realismo italiano. 

Alceu Valença jovem
Créditos: Divulgação

Em 1965, aos 18 anos, ingressou na faculdade de Direito. Durante a graduação, mesmo sem ser fluente na língua inglesa, Alceu se inscreveu em um projeto para estudar por uma curta temporada na Universidade de Harvard, uma das mais conceituadas dos Estados Unidos.

Com uma redação em que mesclava versos poéticos e discursava sobre o marxismo e a igreja católica, Alceu foi aprovado. 

Nesse período, mesmo tendo aulas com grandes figuras conservadoras americanas, Alceu sempre demonstrou seu lado social e se aproximou das lideranças da esquerda, chegando até a participar de uma das reuniões dos Panteras Negras em Boston. 

Como a musicalidade aflorava em seu ser, Valença ia para as praças fazer suas apresentações, cantando seu repertório de xotes e baiões e logo foi abraçado pela cultura hippie

Alceu Valença jovem
Créditos: Divulgação

Esse interesse também foi despertado pela imprensa norte-americana, que chegou a entrevistá-lo e o denominou como uma espécie de Bob Dylan brasileiro, devido aos versos que escrevia, que tinham traços de protesto, mas sem perder a identidade regional que o faria ser tão conhecido.

Em 1970 ele concluiu a faculdade, mas a sua decisão já era perceptível: ele se dedicaria à música. 

Alceu Valença em festivais e a luta contra a censura 

A sua busca pela carreira artística começou com a inscrição para o Festival Internacional da Canção no Rio de Janeiro, ao lado de Jackson do Pandeiro e Geraldo Azevedo. Juntos eles apresentaram a embolada Papagaio do Futuro

Jackson do Pandeiro, Alceu Valença e Geraldo Azevedo
Jackson do Pandeiro, Alceu Valença e Geraldo Azevedo / Créditos: Divulgação

A música não foi qualificada para as finais, mas despertou atenção da juventude militante, fazendo com que Alceu não fosse esquecido. 

Por sua pegada contestadora e posicionamento contrário à ditadura militar, não demorou para que os censores criassem birras com suas letras. Um caso curioso foi com a música Talismã, que nos versos originais dizia: 

Joana, me dê um talismã. Você já pensou em mais eu viajar?

O censor chamou Alceu e alegou que o trecho fazia apologia ao uso da maconha. Diante disso, o poeta falou: e se eu mudar para Diana, a caçadora, pode? A nova versão foi aprovada e depois a canção se tornou um dos clássicos de sua carreira. 

Além do retrato cultural, Alceu usava suas músicas para combater a ditadura vigente e abusava da experimentação, por vezes usando elementos dos ritmos do sertão com os sintetizadores e guitarras do rock, como na surpreendente Vou Danado Pra Catende. 

Com essa personalidade, o multitalentoso músico iria fazer parte um outro movimento: a contracultura pernambucana. 

A contracultura pernambucana e sucessos comerciais 

Durante muitos anos, a Jovem Guarda dominou o cenário da música nacional, mas a complacência com o governo militar e o excesso de bom mocismo começava a cansar o público, que abraçou outros movimentos, como o Tropicalismo e a contracultura pernambucana, que entre os nomes reunia o próprio Alceu, Zé Ramalho, Lula Cortês, entre outros. 

Alceu Valença e Geraldo Azevedo
Alceu Valença e Geraldo Azevedo / Créditos: Divulgação

A ideia era reforçar o valor da cultura nordestina e trazer a riqueza dos versos poéticos e figuras de linguagem próprios da vivência do sertão.

Ao mesmo tempo, Alceu continuava com suas experimentações e nos anos 80, começava a furar a bolha do seu nicho para se tornar mais conhecido pelo público geral. 

Após uma temporada na França, Valença voltou ao Brasil e lançou o álbum Coração Bobo. Com a faixa focada no forró e uma maior presença do cancioneiro regional, o disco foi um estouro de vendas e dali para frente começava uma nova fase. 

Em 1983 surgiria aquela que hoje é a mais conhecida canção do artista, a incrível Anunciação, que desperta múltiplas interpretações e embala desde partos humanizados aos bloquinhos de trio elétrico. Ou seja, um hit atemporal, assim como a famosa La Belle De Jour

Participações no Rock In Rio e o Grande Encontro 

Uma relação curiosa é que mesmo não sendo um artista do estilo esperado pelo público, Alceu Valença sempre se deu bem com o Rock In Rio.

Em 1985, em plena época de reabertura política, o cantor fez apresentações históricas em duas noites seguidas, levando o público à loucura. Em 1991, o músico voltou ao festival e novamente foi um dos destaques da edição. 

Para finalizar, em 2017, ele se juntou novamente com Elba Ramalho e Geraldo Azevedo no palco Sunset e fez a multidão vibrar com a multiplicidade de ritmos e danças em seu espetáculo. 

Voltando décadas antes, é claro que não podemos nos esquecer do Grande Encontro, que marcou a união de ninguém mais que Alceu Valença, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho em um projeto único, que celebrou a diversidade dos artistas do Nordeste. 

Não é nenhuma surpresa contar que a iniciativa foi um sucesso, rendendo grandes números na bilheteria, uma turnê marcante e serviu para apresentar os artistas para uma nova geração. 

A vida pessoal e os projetos de Alceu Valença

Apesar de ser uma figura carismática, Alceu Valença é reservado quando o assunto são as redes sociais, tanto que ele não possui perfis nela. Pai de três filhos, ele é casado atualmente com a produtora Yanê Montenegro. 

Mesmo terminando a faculdade de direito, ele não exerceu a profissão de advogado, mas em 2017 recebeu a carteira da OAB, legitimando a sua função.

O apreço pelo cinema que guardava desde a juventude o levou a fazer pequenas pontas no passado, além da carreira audiovisual, na qual foi diretor, roteirista e ator de A Luneta do Tempo, filme de 2014, premiado em festivais nacionais.

Ator, cantor, multi-instrumentista, poeta… para completar, é óbvio que ele teria um livro para chamar de seu.

Usando seu dom, Alceu publicou o título O Poeta da Madrugada em 2015, no qual reuniu versos melódicos, nascidos para a música e que trazem toda a essência dessa personalidade incrível. 

Para ficar registrado nas redes

Com tanto talento, é óbvio que os versos de Alceu Valença seriam verdadeiras obras primas e por isso mesmo merecem ser compartilhados na internet

Frases Alceu Valença

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