Versos Vegetarianos (part. Arnaldo Antunes)

Crítica social e poesia em “Versos Vegetarianos” do Inquérito

Em “Versos Vegetarianos (part. Arnaldo Antunes)”, o Inquérito utiliza a metáfora da alimentação para propor uma poesia e um rap "limpos", livres da violência e do sensacionalismo presentes na mídia. Isso fica evidente em versos como “cansei de telejornal de sangue, carne espirrando”, onde a rejeição ao conteúdo violento dos noticiários se conecta à busca por uma arte que alimente a mente de forma saudável. A comparação do rap a “cereal, cerebral matinal” reforça a ideia de que a música pode nutrir intelectualmente, combatendo a “desnutrição mental” causada pelo consumo de “programa enlatado, lotado de conservantes”. Essa crítica à cultura de massa e à alienação é uma marca tanto do Inquérito quanto de Arnaldo Antunes, cuja participação traz experimentação linguística e reflexão social.

A letra também aborda temas como desigualdade social e invisibilidade, exemplificados em “quem não come nada some! Por isso ninguém enxerga essa gente que passa fome!”, conectando a metáfora da alimentação à realidade de quem sofre com a fome e a exclusão. O trecho de Arnaldo Antunes, “tudo vem do vem, tudo vem, do vento vem tudo” (tudo vem do vir, tudo vem, do vento vem tudo), acrescenta uma dimensão filosófica, sugerindo que tudo é transitório e interligado. A música ainda critica regimes autoritários e a medicalização da vida, como em “regime militar, alimentar, talibã” e “a farmácia é uma biqueira com CNPJ”, ampliando o questionamento para sistemas de controle social. O relato pessoal de superação, ao trocar a fábrica pela música, encerra a canção com uma mensagem de resistência e transformação, mostrando a arte como ferramenta de libertação e consciência.